Analistas políticos russos confirmaram à Sputnik que a Assembleia dos Peritos do Irã está atualmente elaborando planos para eleger o próximo líder do país.
"O poder do líder supremo do Irã é realmente ilimitado. Ao longo da sua vida, ele é comandante em chefe, chefe da República Islâmica e líder religioso e ideológico do país, controlando todas as esferas da vida. Enquanto isso, o presidente, que é eleito de quatro em quatro anos, é o número dois e se vê obrigado a seguir a linha geral consagrada pelo líder supremo e seus aliados", explicou à Sputnik Vladimir Sazhin, do Instituto de Estudos Orientais da Academia de Ciências da Rússia, especializado no Irã.
De acordo com Sazhin, a possível demissão de Ali Khamenei poderia ser a maior mudança política na República Islâmica durante os últimos 28 anos.
Vale destacar que o atual líder religioso conseguiu reformar suficientemente o sistema político do país, impondo, por um lado, um controle burocrático sobre as instituições financeiras do poder religioso no país e, por outro, garantindo à comunidade religiosa poderes e privilégios adicionais.
Ao mesmo tempo, tem se reduzido constantemente o papel do governo, já que têm sido criadas estruturas paralelas e seus representantes diretos e indiretos têm chegado aos ministérios, universidades e Forças Armadas do país.
O analista frisou que o poder concentrado nas mãos do líder supremo do Irã é de tal magnitude que sua substituição poderia causar mudanças verdadeiramente tetônicas na política interior e exterior iraniana. O mais perigoso nesta situação seria intervir e exercer pressão. Entretanto, a administração Trump, de acordo com ele, parece estar fazendo exatamente isso.
O outro cenário permitiria limitar os poderes do líder supremo a favor do presidente. A terceira via sugere prosseguir com o equilíbrio de forças que existe hoje em dia.
De acordo com Aleksandr Maryasov, especialista do Clube Valdai e embaixador da Rússia no Irã (2001-2005), a geração de revolucionários já está gradualmente deixando o palco político do país.
"Entretanto, em um futuro próximo não devemos esperar uma mudança brusca no rumo político do país. Ninguém no Irã quer uma mudança revolucionária e dificilmente está interessado em 'agitar as águas'. Todos os poderes parecem estar satisfeitos com o desenvolvimento do país", destacou.
Os analistas também ponderam o papel dos EUA nos novos acontecimentos na arena política do país.
"Os EUA querem derrotar o regime iraniano através do cenário afegão ou iraquiano. Não obstante, até o Pentágono percebe que isso é impossível. Para uma operação desta índole, se necessitam não somente de soldados, mas também de milhões de dólares, e ainda assim isso não garante que a situação se resolva com sucesso. Por isso, Washington optou por outra estratégia", indicou o renomado especialista russo no Oriente Médio, Semyon Bagdasarov.
Esta estratégia consiste em intensificar a pressão estratégica sobre o Irã com a ajuda de novas sanções, e em segundo lugar, apoiar os sentimentos separatistas dentro do país entre a população curda, por exemplo, explicou o analista.
Em terceiro lugar, se busca eliminar os xiitas. Foi por isso que os EUA e seus aliados se envolveram nos combates na fronteira sírio-iraquiana, pois querem evitar que o Irã tome o controle destes territórios.
No entanto, qualquer que seja a causa real dos esforços para intensificar a pressão sobre o Irã, é pouco provável que estas ações levem a um regime pró-ocidental. Na realidade, acontecerá o contrário, acredita o especialista.
Vale relembrar que o golpe de Estado no Irã, realizado mais de 60 anos atrás, foi incitado e levado a cabo pelas agências de inteligência ocidentais, acabando por provocar o aumento dos sentimentos religiosos e levado à Revolução Islâmica de 1979.