Segundo o jornal de Brasília, o PCC revende ao Hezbollah as drogas que compra em países vizinhos, e em troca recebe armas pesadas e munições. O PCC teria estabelecido uma parceria com o Hezbollah, e as trocas não se limitariam ao câmbio de drogas por armas, mas também compreendem contrabando de produtos eletrônicos, cigarros, roupas e combustível.
Para o Coronel Diógenes Lucca, da Reserva da Polícia Militar de São Paulo, profissional com ampla experiência em Segurança Pública, a notícia não surpreende e deve ser tratada com a máxima seriedade pelas autoridades federais e estaduais, assim como por toda a sociedade brasileira:
"Esta notícia não me surpreende, embora eu não possa referendá-la. Mas eu quero dizer uma coisa muito importante: eu estive em 2016 em Israel, um pouquinho antes dos Jogos Olímpicos. Fiz um curso de [combate ao] terrorismo – e [combate ao] terrorismo já faz parte do curso de formação de alguém que integra [ou integrou] tropa de elite, que foi o meu caso durante 11 anos da minha vida. Então, este é um tema que me é muito próximo. Eu me tornei um desativador de explosivos, e conheço bem toda essa dinâmica."
O Coronel Lucca conta sua experiência no exterior:
"Voltei de Israel tremendamente apavorado com aquilo que ouvi lá: o terrorismo, nos últimos 15 anos, cresceu na ordem de 85% no mundo. E quando eu tive contato com esse número, com as práticas do Estado Islâmico [o Daesh] utilizando inclusive crianças, e vendo como o terrorismo se alargou, eu voltei para o Brasil bastante preocupado com os Jogos Olímpicos. E lá nesse curso, uma coisa foi muito dada: todos os órgãos que atuam no combate ao terrorismo (órgãos de Inteligência, agências) têm naquela região da América do Sul, da tríplice fronteira (Paraguai, Argentina e Brasil), um local tremendamente monitorado. É dado como certo que ali há células de grupos terroristas (em particular, do Hezbollah, e há suspeitas de que os atentados ocorridos [em 1994] na Argentina partiram daquela região), e portanto, não me surpreende que as organizações criminosas [do Brasil] estejam já se aproximando desses grupos terroristas para incrementar suas ações."
Na opinião de Diógenes Lucca, PCC e Hezbollah consolidaram uma espécie de aliança empresarial:
"A parceria do crime organizado com essas facções terroristas já é dada como certa. O crime organizado tem feito quase que uma joint venture, ou seja, uma parceria com o terrorismo para aproveitar as mesmas rotas clandestinas de tráfico de drogas e armas em benefício mútuo."
Com a experiência de quem formou e adestrou integrantes das tropas de elite da Polícia Militar de São Paulo, o Coronel Diógenes Lucca constata ainda:
"Nós estamos vendo já as próprias facções criminosas aqui operarem com metodologias inspiradas no terrorismo. Então, essa troca de informação como atentados a bomba, roubo de caixas eletrônicos com explosivos, saber mexer com explosivos, tudo isso, essa proximidade das facções criminosas com o terrorismo, incrementa as dificuldades que a Polícia e o Estado têm para combater o crime."
Ainda de acordo com Lucca, as associações entre criminosos do Brasil e do exterior são antigas. A novidade, porém, é que elas chegaram ao ponto extremo de envolver relações com grupos terroristas que agem com extrema violência, e isso demanda um esforço conjunto nacional e internacional no sentido de conter as ações de ambas as partes. Segundo o especialista, é possível conter e interromper essas ações, mas isso exigirá uma atuação conjunta de inteligência, informação e ações dos órgãos de Segurança.