Em entrevista à Sputnik Brasil, o dirigente comenta o que está por trás da decisão.
O consórcio, formado pela Triunfo e UTC, diz que o movimento de cargas, ponto forte de Viracopos, caiu 40% em 2016, enquanto a diminuição de passageiros chegou a 52% devido à crise econômica. O consórcio acumula uma dívida de R$ 173,8 milhões em repasses não pagos à União e por isso decidiu devolver o aeroporto, no primeiro caso de devolução no país após o início das privatizações aeroportuárias. Até a próxima licitação, o consórcio vai continuar operando a unidade por até 24 meses prorrogáveis. Com as novas regras, mesmo que um novo interessado assuma o aeroporto, a Infraero deixará de ter 49% de participação no empreendimento.
"Isso é fruto da decisão do governo de privilegiar o capital especulativo. As classes C e D, por exemplo, já saíram dos aeroportos, estão de volta na rodoviária. O Aeroporto de Viracopos, especificamente, tem um potencial de carga. Muito do parque industrial e de tecnologia da região de Campinas é para o aeroporto. Com a diminuição de consumo e passageiros e a saída do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), por conta de que um dos participantes do consórcio está envolvido na Operação Lava Jato, tornou-se difícil a situação, apesar de ser uma das joias da coroa da Infraero", diz o dirigente, atribuindo os problemas à má gestão do aeroporto.
Para o presidente do sindicato, embora a Infraero detivesse 49% do empreendimento, ela não participava das decisões operacionais. Para Lemos, se a Infraero continuasse operando o aeroporto e a concesisonária, a área comercial, o cenário poderia ser outro.
"A grande verdade é que essas concessionárias não sabem o que é um aeroporto. Elas veem o aeroporto como algo lucrativo e entram no projeto com um conceito de shopping center. Agora para esses novos aeroportos que foram concedidos estão vindo concessionários estrangeiros, como a Freiport e a Zurich. O governo está dizendo que será diferente, mas acho que também há um risco grande do negócio dar para trás, porque a exploração de aeroportos no Brasil é muito diferente. Na França, na Alemanha e Suíça, a classe C e D é muito pequena, o poder aquisitivo é diferente. Eles vão se deparar aqui com um público muito menor."
O dirigente lembra que o movimento nos aeroportos brasileiros caiu 20% devido à crise econômica, reflexo, segundo ele, da inexistência de uma política nacional de integração de transportes. Lemos observa que, num primeiro momento, os governos Lula trouxeram as classes C e D para os aeroportos, ocasionando uma demanda maior pelo transporte aéreo. Com a mudança de política econômica, esses segmentos voltam para o transporte de ônibus, deixando à classe média a incumbência de dar o retorno aos investimentos nos aeroportos. Segundo o presidente do Sindicato, para agravar a situação, a Azul já sinalizou que pode deixar de operar em Viracopos, o que seria uma péssima notícia para o aeroporto.
A devolução de Viracopos para a União pode não ser a única. Segundo o Sindicato Nacional dos Aeroportuários, o terminal de São José do Amarante, em Natal, corre o mesmo risco, uma vez que a concessionária Inframérica estuda adotar a mesma solução. O quadro se agrava com a intenção já anunciada pelo governo de privatizar a Infraero em lotes.
"Empresário nenhum compra um lote de negócio onde ele tem estabelecimentos rentáveis e outros deficitários, de onde ele vai tirar o lucro do rentável para subsidiar o deficitário. Empresário subsidia com o lucro a vida dele e da família dele, quando ele gosta da família. Quando não gosta, ele só subsidia a dele", alfineta o dirigente sindical, chamando a atenção para o fato de que, assim como já aconteceu em outros países, o Brasil corre o risco de ter um apagão nos aeroportos nas capitais por falta de investimento.