Apesar dos principais meios de comunicação e os políticos dos EUA continuarem a desenvolver a narrativa sobre os supostos "traços russos" na campanha presidencial norte-americana do ano passado, é improvável que as tensões entre Washington e Moscou resultem em um confronto nuclear total, notou o comentarista do jornal russo Vzglyad. Ele enfatizou, entretanto, que as ações provocativas de Washington para com a Coreia do Norte são uma outra história.
Durante uma entrevista para a emissora NBC nesta terça-feira, o senador Lindsey Graham afirmou que o presidente dos EUA considera a guerra com a Coreia do Norte como uma opção.
"Existe a solução militar: destruir o programa [nuclear] da Coreia do Norte e a própria Coreia do Norte. Isso está sendo adiado há 20 anos", disse o senador.
De acordo com o colunista do Vzglyad, Pyotr Akopov, a questão da Coreia do Norte surgiu inicialmente como uma ferramenta para de chantagem contra a China. Parece que alguém persuadiu o presidente dos EUA de que esta seria a melhor maneira de exercer pressão sobre Pequim, observou Akopov.
De fato, aos olhos de Washington, a questão coreana não é tão controversa como a questão do Taiwan, observou o jornalista.
"Se Trump continuasse a chantagear a China com a possibilidade de descongelar a questão de Taiwan (isto é, rever a Política de Uma China), isso resultaria em uma paralisia das relações entre Washington e Pequim. Xi Jinping não conversaria com um presidente dos EUA cujo objetivo fosse minar a base das relações entre a China e os Estados Unidos", explicou Akopov.
Ainda assim, os esforços da administração do Trump para vencer a queda de braço com Pequim na questão da Coreia do Norte também não geraram frutos.
"O que Trump queria? Ele queria que a China trouxesse a Coreia do Norte numa bandeja de prata e forçasse Pyongyang a interromper o programa nuclear ou mesmo a mudar de regime? Nenhuma dessas opções é possível. Mesmo se Pequim, por algum motivo, decidisse fazer um presente desses para os americanos", escreveu Akopov.
O jornalista assumiu que Trump pretendia forçar Pequim a se desculpar pelo aliado e depois oferecer concessões comerciais consideráveis. Se o plano funcionasse, Trump teria sido anunciado como o político que resolveu a crise coreana.
O problema é que esta abordagem está completamente distante da realidade, ressaltou o jornalista, acrescentando que os políticos dos EUA têm pouca compreensão da situação na Coreia e das relações entre Pyongyang e Pequim.
Dessa forma, a retórica belicista da administração Trump é ao mesmo tempo ridícula e perigosa.Por um lado, ninguém em sã consciência acredita que Pyongyang pretende realizar um ataque nuclear preventivo contra os EUA. Por outro lado, o entusiasmo dos falcões dos EUA quanto à possibilidade de uma guerra entre a Coreia do Norte e os Estados Unidos suscita sérias preocupações.
Pyongyang justifica suas ações com o argumento de que a dissuasão nuclear é a única garantia da soberania do país.
Akopov apontou que, embora a China e a Rússia tenham repetidamente condenado a Coreia do Norte por seus testes de mísseis, Moscou e Pequim acreditam que a questão deve ser resolvida por meios diplomáticos.
À luz disto, os espetaculares exercícios militares dos EUA nas proximidades das fronteiras da Coreia do Norte estão apenas alimentando o incêndio, advertiu o jornalista.
A pergunta que surge é se Pyongyang é o verdadeiro culpado da crise na região.
"A ameaça real para a paz seria um potencial ataque dos Estados Unidos contra a Coreia do Norte, um país que não representa uma ameaça para os Estados Unidos, mas, pelo contrário, vive há 65 anos na mira da armas americanas", concluiu Akopov.