Pressão aumenta: Venezuela com um pé fora do Mercosul

© AP Photo / Juan BarretoNovos membros da Assembleia Nacional Constituinte posam em frente ao Congresso
Novos membros da Assembleia Nacional Constituinte posam em frente ao Congresso - Sputnik Brasil
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Embora sem se arriscarem a fazer um prognóstico preciso sobre o resultado da reunião deste sábado, em São Paulo, com chanceleres do Mercosul, dois analistas ouvidos pela Sputnik Brasil concordam que cresce a pressão de Brasil, Argentina, Paraguai e até do Uruguai para suspenderem a Venezuela do bloco, alegando ruptura da ordem democrática.

Desde o início do agravamento da crise na Venezuela, notadamente a partir do início de abril, Brasil, Argentina e Paraguai vem condenando o governo do presidente Nicolás Maduro e defendido a suspensão do país do bloco, alegando, entre outros motivos, o fato de que Caracas não teria incorporado a sua legislação regras básicas como a adoção da Tarifa Externa Comum (TEC), compartilhada pelos outros países do bloco. A  Assembleia Nacional Constituinte, empossada nesta sexta-feira, provocando novos e violentos protestos por parte da oposição, só contribuiu para agravar esse quadro. A oposição, que boicotou o referendo popular para a Constituinte no último domingo, alega que esta é mais uma manobra para Maduro se perpetuar no poder.

No Brasil, a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) aprovou a criação de uma comitiva que vai visitar a Venezuela, não para interferir nos assuntos internos do país, mas apenas no intuito de colaborar para um restabelecimento mínimo de diálogo entre governo e oposição.

Em entrevista à Sputnik Brasil, o cientista político Augusto Cattoni, pesquisador do Instituto Atlântico, diz que o quadro é de impasse. "O Maduro está maduro para cair já algum tempo e não cai. Esse envio de delegação à Venezuela não vai servir para nada, é uma perda de tempo, uma nova frustração. Os ânimos na Venezuela estão muito acirrados."

Cattoni diz que a reação do Brasil à convocação da Constituinte vem sendo muito tímida. "Agora, Maduro vai poder calar o Legislativo, que vinha sendo uma fonte de oposição ao governo, não totalmente eficiente, mas talvez mais eficiente que essas manifestações de rua que levaram a tanta violência. Agora, o Maduro vai poder monopolizar toda a governança da Venezuela."

O cientista político não vê, por outro lado, contradição na política dos Estados Unidos que, embora já tenham anunciado que vão impor sanções econômicas ao país, continuam importando petróleo venezuelano.

Bandeiras dos países do Mercosul - Sputnik Brasil
Uruguai e Argentina preparam resposta do Mercosul contra a Venezuela

"Isso (a suspensão das compras de petróleo) teria consequências negativas para os EUA. Uma é porque várias refinarias americanas são adaptadas especialmente para trabalhar com o óleo pesado venezuelano. Além disso, sem importar petróleo da Venezuela, o preço da gasolina nos Estados Unidos poderia subir também", conclui Cattoni.

Com uma visão crítica sobre as pressões do Mercosul para suspensão da Venezuela, o deputado federal Saguas Moraes (PT-MT), afirma que, com a suspensão do país vizinho, o Mercosul caminha para se transformar em um bloco fragmentado e sem força. Moraes, um dos deputados brasileiros que integram a bancada do Parlamento do Mercosul (Parlasul), diz que esse assunto vai ser abordado durante encontro do parlamento no próximo dia 21, em Montevidéu.

"Após o golpe aqui no Brasil e após a vitória do Macri na Argentina, eles já vinham trabalhando nesse sentido. Não sei se eles terão mais argumentos para excluir a Venezuela. Essa posição desses três países é muito ruim (Brasil, Argentina e Paraguai) e agora se o Uruguai fizer a mesma coisa, porque no mercado comum temos que agregar aliados e não excluir. Essa é uma política burra", diz o parlamentar do PT

Quanto à missão parlamentar brasileira que viajará à Venezuela, Moraes se diz esperançoso de que ela alcance bons resultados, ao contrário daquela, formada por senadores do PSDB, ainda no segundo mandato da então presidente Dilma Rousseff, que sequer chegou a ser recebida por algum representante do governo em Caracas e da qual faziam parte os senadores Aloysio Nunes (SP) e Aécio Neves (MG).

"A outra comissão era com o intuito de denunciar o governo venezuelano, de se aliar à oposição e tentar confrontar o governo. Ela foi mal recebida por causa dessa condição. Agora essa tem outra característica, que é de pacificar", conclui Moraes.

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