Apesar de os Jogos Internacionais do Exército serem um evento com uma história consideravelmente curta, tendo sido organizados pela primeira vez apenas dois anos atrás, eles continuam atraindo a atenção por parte das equipes estrangeiras.
Neste ano, foram 28 os países que tomaram parte do evento, sendo um deles falante de língua portuguesa, ou seja, o time angolano que participou do biatlo de taques, uma competição muito prestigiada que costuma reunir centenas de espetadores e jornalistas de todo o mundo.
A competição abrange todo o tipo de treinamentos e equipamentos militares, desde os sistemas de defesa antiaérea até à corrida de cachorros militares e ao concurso de melhores pratos cozinhados no meio do campo de batalha. Além disso, os concursos se realizam não só em várias partes da Rússia, mas também no estrangeiro como, por exemplo, na China, no Cazaquistão e na Bielorrússia.
A Sputnik Brasil, juntamente com um grupo de jornalistas de várias agências internacionais, teve uma oportunidade única de viajar até à região russa de Omsk e ver em primeira mão como decorrem as competições mais prestigiadas de todo o país.
Assim, no polígono do Instituto de Engenharia de Veículos Blindados de Omsk se deu uma das competições mais impressionantes — o Rembat — que conta com a participação das equipes de manutenção de blindados e veículos de evacuação e conserto militar.
A Sputnik testemunhou a etapa final, e a mais importante, que se chama percurso misto e consiste de um revezamento de 4 km efetuado por três veículos diferentes que, à medida que se aproximam do fim do roteiro, têm de ultrapassar toda uma série de obstáculos — desde cursos de água com profundidade de um metro, fossos antitanque, declives, até minas instaladas no terreno por um inimigo convencional.
Além de demonstrar o potencial das Forças Armadas da Rússia e as caraterísticas técnicas dos seus equipamentos, o evento visa realizar uma troca de experiência entre os times de vários países. Por exemplo, o vice-chefe da delegação chinesa, tenente-coronel Li Yuqiang, que participa do Rembat já pela segunda vez, assinalou que neste ano o nível de preparação do evento foi muito mais elevado e garantiu ao seu exército uma excelentíssima oportunidade para conhecer algo novo e melhorar seu próprio treinamento.
"A Rússia e a China são parceiros estratégicos. Este concurso contribui tanto para a cooperação e intercâmbio militares, como para o relacionamento entre as nossas nações. A China e a Rússia sempre foram bons amigos", realçou aos jornalistas o militar chinês, que também participou da competição como um dos juízes.
Vale destacar também que, ao longo da preparação para o concurso, houve vários protestos da parte chinesa, particularmente quanto às regras de segurança técnica, porém, de acordo com Yuqiang, todas as reclamações da sua delegação foram satisfeitas logo após serem apresentadas.
Entre as etapas mais tensas do concurso se pode destacar o descarregamento dos veículos de manutenção e evacuação militares que se efetua com as maiores velocidade e precisão possíveis, dado que apenas um passo errado pode ameaçar não só o resultado da competição, mas também a própria vida dos participantes.
Além disso, os organizadores fazem questão de que as condições sejam aproximadas ao máximo às de uma batalha real, por isso, por todo o lado as tripulações correm o risco de passar por cima de uma mina terrestre.
Após a explosão, que não é nada ligeira (os leitores podem acreditar nos correspondentes que evidenciaram uma onda de choque com seus próprios olhos… e ouvidos), os participantes, em regime de emergência, têm que substituir um rolo transportador danificado.
A água também é um dos "inimigos" que as tripulações enfrentam ao longo da corrida. Assim, os carros de manutenção técnica passam a vau um reservatório de água tão profundo que este "engole" quase metade do veículo. E nesta etapa, como em todas, um movimento mal pensado pode arruinar todos os meses da preparação escrupulosa. Neste sentido, um revezamento cria um espírito único de unidade, já que toda a tripulação deve estar muito concentrada e se ajudar mutuamente para conseguir um bom resultado.
Na tarde do mesmo dia, depois dos juízes terem tomado sua decisão, foi revelado que a equipe da Forças Armadas russas acabou por ocupar o primeiro lugar da competição, deixando atrás os times chinês e cazaque. Porém, numa etapa de corrida individual que decorreu um dia antes, os chineses mostraram excelentes resultados, ultrapassando mesmo o país eslavo.
"Nós ficamos atrasados por apenas alguns segundos. […] Como exemplo, nós tivemos apenas a nós mesmos, a Rússia. A Rússia para a frente!", exclamou Aleksei Panin, comandante da equipe russa no concurso Rembat 2017, falando dos resultados do concurso.
"Analisamos a preparação técnica dos nossos parceiros. Eles nos observam, nós os observamos, ou seja, efetuamos uma troca de experiência", adiantou.
A delegação cazaque também expressou uma grande satisfação com o evento, apesar dos vários problemas que teve de enfrentar. Por exemplo, durante uma corrida individual que decorreu no meio de um calor fortíssimo, em polígono aberto, um dos participantes desmaiou, perdendo toda a equipe seus pontos.
"A parte mais difícil foi a estafeta esportiva, que decorreu pela primeira vez neste ano. […]. Pode-se dizer que foi criado um verdadeiro teatro de operações. […] Para nós, a Rússia atuou de uma maneira mais coordenada, bem como a China, que estava bem preparada", afirmou o tenente Stanislav Van, comandante da equipe cazaque.
O militar cazaque sublinhou que, dado que uma série de equipamentos usados ao longo dos jogos ainda não integra o exército do Cazaquistão, isto vai ajudar os cazaques a se adaptarem melhor aos veículos novos quando estes forem importados para o seu território.
Depois do fim das competições, o público teve oportunidade de disfrutar de um programa cultural interpretado pelos cadetes do Instituto de Engenharia de Veículos Blindados de Omsk. A maior atração da tarde foi uma apresentação de jovens militares que demonstraram um verdadeiro recorde — conseguiram desmontar e montar um jipe do tipo UAZ em apenas alguns minutos.
O chefe de faculdade do Instituto, tenente-coronel Aleksei Kapinus, confessou à Sputnik Brasil que, quando os cadetes lançaram pela primeira vez um vídeo da sua realização no YouTube, nem todos os internautas acreditaram que esta fosse uma cena real, deixando mesmo alguns comentários repugnantes.
"Inicialmente, isto foi preparado como parte do programa cultural para o concurso Rembat do ano passado. […]. Ninguém esperava tal entusiasmo em torno disso. […] A verdadeira surpresa chegou quando, passados apenas cinco dias depois de termos compartilhado o vídeo, este contou com cerca de 1,5 milhões de visualizações. Claro que houve comentários de todo o tipo — desde a admiração até atitudes abertamente negativas que punham em questão o fato dele [jipe] andar por ele próprio", revelou o militar.
Kapinus sublinhou que na base da faculdade se preparam quadros altamente qualificados no campo de manutenção técnica de blindados. Por exemplo, um tanque do modelo T-34 que esteve estacionado sem funcionar durante 30 anos, foi "ressuscitado" pelos estudantes do instituto e acabou por desfilar pela praça principal de Omsk na Parada da Vitória em 2017, o que é mais uma prova que a retaguarda das Forças Armadas russas, como o foi durante toda a sua história, é uma base sólida de segurança e proteção deste enorme país.