O pleito — que funcionou como uma espécie de prévias para as eleições legislativas de 22 de outubro, que irão renovar metade da Câmara dos Deputados e um terço do Senado — revela que agremiação de Kirchner, que fundou o partido, após romper com o Partido Justicialista (peronista), ainda tem um longo caminho a percorrer. Para Servideo, será necessário muito diálogo por parte de Cristina Kirchner, que disputa uma vaga no Senado, para obter o apoio dos justicialistas, que se fragmentaram em várias correntes após a vitória de Macri na última eleição presidencial.
Na cidade de Buenos, que representa 40% dos votos no país, e onde o kirchnerismo tradicionalmente conta com um grande número de votos, os candidatos do Cambiemos conseguiram maioria: receberam 49% dos votos, contra 20% do Unidade Cidadã. Na Província de Buenos Aires, a margem foi mais apertada (34,27% contra 34,01%. O Cambiemos também recebeu mais votos em cidades importantes como Mendoza, Córdoba, San Luis, Santa Cruz e no sul do país. Já o Partido Justicialista mostra estar passando por uma releitura de seu posicionamento como opositor onde as lideranças tradicionais, tanto na Província de Buenos Aires quanto em outras, ainda não conseguiu demonstrar força eleitoral suficiente para enfrentar a coalizão governista.
Na avaliação do presidente da Camarbra, o partido de Macri esperava um resultado positivo nessas prévias, mas ele veio acima do projetado, principalmente na Província de Buenos Aires, onde Cristina tem mais correligionários. As eleições de outubro vão renovar três senadores e 127 deputados, dos quais 35 virão da Província de Buenos Aires. Servideo avalia que os números parecem indicar uma consolidação nacional da coalização do presidente Macri.
"Ainda falta muito até as eleições de outubro. O que demonstram as primárias é que os líderes tradicionais e os novos líderes que poderiam aparecer, uns estão perdendo relevância e os novos ainda não estão aparecendo dentro dessa oposição", diz o presidente da Camarbra.
Para alguns analistas, não deixou de ser surpresa que a coalização de Macri tenha se saído bem nas primárias, levando-se em conta a delicada situação econômica na Argentina, onde um terço da população se encontra abaixo da linha de pobreza, o desemprego ronda os 10% e a inflação acumulada de janeiro a julho deste ano bate na casa dos 14%. Isso somado aos tarifaços nos serviços de água, energia e combustíveis promovidos logo após a posse de Macri e a lenta retomada da economia traziam uma expectativa de desempenho melhor para a Unidade Cidadã, que tem justamente como slogan "Assim não podemos continuar".
Na visão de Servideo, contudo, o resultado das primárias, apesar de todo o sacrifício imposto à população pelas medidas de ajuste, mostra que os argentinos confiam em dias melhores.
"As medidas corretivas que estão sendo implementadas pelo governo Macri estão começando a dar algumas boas notícias. Os indicadores de atividade econômica, inflação e desemprego dos últimos dois meses tendem a ser positivos, e os economistas esperam que essa tendência continue nos próximos meses", afirma Servideo.