A experiência começa pela Prefeitura de São Paulo, que escolheu nesta terça-feira três desses aplicativos após uma hackaton (maratona de programação) realizada em junho que levou 50 desses hackers ao plenário da Câmara dos Vereadores para apresentar soluções tecnológicas para ajudar a fiscalizar os gastos públicos, combatendo assim a corrupção. Por 36 horas, esses jovens reuniram-se com técnicos da Prefeitura e da Controladoria Geral do Município para desenvolver esses trabalhos. Três soluções foram as escolhidas e vão começar a ser postas em prática ainda este ano.
A Sputnik Brasil conversou com Kevin Dantas Shih, um desses desenvolvedores, sobre a solução batizada de Suspeitando, criada em conjunto com amigos desenvolvedores.
"A ideia do aplicativo surgiu durante o hackaton, e o pessoal da controladoria nos deu alguns feedbacks de problemas que eles tinham, como conseguir determinar exatamente onde existem esses gastos. Hoje o processo ainda é manual. Eles levam muito tempo para detectar uma possível falha (nas licitações). As licitações e os gastos públicos são abertos e as pessoas conseguem acessar. A plataforma pega esses dados onde é feita uma tratativa em cima deles para ver qual órgão, o que eles licitaram, por quanto e o tempo. Com essas informações, a gente consegue saber se alguns dos órgãos estão pagando mais pelos produtos do que outros órgãos. Os dados que têm preços muito diferentes a gente junta numa plataforma visual para que o pessoal da controladoria consiga ver", explicam Shih e o amigo Patrick.
O aplicativo já está disponível na internet, no site www.suspeitando.com.br.
A Sputnik conversou também com o vereador José Police Neto (PSD), autor da proposta e que se mostrou entusiasmado com os resultados apresentados pelos jovens na maratona. Em 1º de janeiro, foi apresentado um projeto de lei, a chamada Política Municipal de Prevenção e Combate à Corrupção e em paralelo foi desenvolvida a maratona com desenvolvedores desses aplicativos.
"Eles nos apresentaram fórmulas para enfrentar a maldição da corrupção, seja no sobrepreço, seja no combinado de quem vai levar aqui para o outro levar lá. A gente sabe o quanto isso abala as estruturas do poder público e quanto gera em desestímulos da sociedade que passa a não acreditar mais no setor público", diz o vereador.
Três plataformas foram escolhidas. Uma foi o Suspeitando, que tenta identificar cada passo da licitação; a Lupa, que compara preços similares contratados pelas secretarias, destacando todos os contratos com valores 20% acima da média; e a Corruptômetro, onde é possível identificar, pelo volume de recursos envolvidos, onde está a prática da corrupção. Tudo só com dinheiro privado através de patrocínios com empresas e instituições.
"Essa garotada está fazendo a diferença, para combater com tecnologia a corrupção no país. Isso, levado aos tribunais de contas dos municípios, permitirá usar inteligência artificial para identificar a corrupção, combatê-la e ir para um outro ambiente, o da prevenção", diz Police Neto. Segundo o vereador, a partir de um contrato da Microsoft, a Prefeitura do Rio procurou a de São Paulo para, em breve, desenvolver uma parceria semelhante com os hackers do bem aqui do Estado.