Na opinião de Harsh V. Pant, o Vietnã pode vir a cooperar com os indianos, a fim de "desafiar os chineses" para "um equilíbrio de poderes" na região. Uma sinalização de que o governo da Índia já atua na "retaguarda" chinesa foi dado em 2016.
Antes da cúpula do G20 que aconteceu naquele ano na China, o primeiro-ministro indiano Narendra Modi visitou Hanói. Foi a primeira viagem de um premiê da Índia ao país asiático em 15 anos, o que, segundo Pant, "deixou claro que Nova Délhi já não vacila na hora de expandir a sua presença na periferia da China".
"[A Índia] deseja desempenhar um papel mais firme na região Indo-Pacífica", emendou o professor.
A relação entre vietnamitas e indianos só aumentou nos últimos meses, sobretudo com o anúncio de que o Vietnã comprou mísseis supersônicos de cruzeiro de curto alcance BrahMos. A Índia negou a informação, mas também não deu detalhes.
Hanói buscava comprar o armamento desde 2011, mas foi só em 2016 que o governo indiano acionou a BrahMos Aerospace, uma empresa binacional (conta com participação russa e indiana) que produz os mísseis, para que liberasse a sua venda para outros países. Uma linha de crédito de US$ 100 milhões foi colocada para que o Vietnã pudesse adquirir as armas.
Para o especialista da King’s College, não resta dúvida que "os dois países estreitaram relações nos últimos anos" e que, para a Índia, ter um aliado no Vietnã significa possuir um novo "ponto de pressão" contra a China, uma vez que ambos estão preocupados com o acesso chinês ao Oceano Índico e ao mar da China Meridional.
Enfrentamentos
A cooperação entre Índia e Vietnã já se dá no campo defensivo, com o auxílio indiano na manutenção de plataformas defensivas vietnamitas, a fim de defender rotas marítimas na região. É uma causa que o governo indiano abraçou em outubro de 2011, quando os dois países firmaram um acordo para exploração petroleira, mesmo diante dos protestos de Pequim.
De acordo com Pant, a ajuda indiana vai além, com Nova Délhi bancando até mesmo o ensino da língua inglesa aos oficiais de Hanói. Outro ponto que os dois países contam contra a China é um aliado comum: os Estados Unidos.
O especialista relembrou ainda que, após ganhar a curta guerra com a China em 1979, o Vietnã "manteve a cautela" a respeito do "crescente poder econômico e militar de Pequim". Por isso, alguns na Índia encaram Hanói como “um contrapeso”, tal como é o Paquistão (rival dos indianos) para a China.
Isso motivou que "Hanói gradualmente se torne o eixo do movimento indiano oriental" e abriu a opção de que, se "Pequim quer expandir sua presença no sul da Ásia e na região do Oceano Índico", Nova Déhli pode "fazer o mesmo na Ásia Oriental” ou se a China tem "cooperação estratégica com o Paquistão e ignora as preocupações da Índia", esse país tem a opção de "desenvolver laços fortes" com os estados da periferia da China.
No momento, "esta posição é bem vista" por países que "temem a crescente agressão da China", concluiu Pant.