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Opinião: chineses vão cobrir lacunas deixadas por empresas brasileiras

© AFP 2023 / Greg BakerMichel Temer e Xi Jinping durante cúpula do G20 na China
Michel Temer e Xi Jinping durante cúpula do G20 na China - Sputnik Brasil
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Na China desde quinta-feira, 31 de agosto, o presidente do Brasil, Michel Temer, tem oportunidade de conversar com seu colega Xi Jinping, com o Primeiro-Ministro Li Keqiang e com os empresários chineses sobre investimentos e oportunidades de negócios no Brasil, que segundo analistas, tem muito a ganhar com essa parceria.

Tudo isso antes de participar da reunião de cúpula dos BRICS (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) em Xiamen, nos dias 3, 4 e 5. Como disse Temer, em vídeo divulgado no mesmo dia (29 de agosto) em que embarcou para Pequim, sua expectativa é de convencer o governo e o empresariado da China a investir no Brasil.

Especialista em Economia da China, Roberto Dumas, Professor do Insper (Instituto de Ensino Superior em Negócios, Direito e Engenharia), analisou em entrevista exclusiva para a Sputnik Brasil o que o Brasil pode ganhar com esta aproximação maior com a China. Roberto Dumas, que viveu por muitos anos na China e foi Professor da Universidade de Fudan, adverte que, antes de fechar negócios, o Brasil precisará aprender a lidar com a China e com os chineses.

Dumas analisou as razões de os chineses estarem se voltando tanto para os países da África e da América Latina, com especial interesse pelo Brasil:

"O sentido dos investimentos chineses no Brasil e em países da África é macroeconômico e geopolítico. Desde 2008, quando houve a crise econômica nos Estados Unidos, os Estados Unidos pararam de comprar da China com a intensidade com que vinham comprando. Então, de 2008 para cá, os chineses passaram a procurar terceiros mercados e viram na América Latina e na África excelentes terceiros mercados. Mas não só por isso: os chineses estão vindo com tudo para esses países para, também, ter acesso a produtos naturais e porque isto faz parte do processo de internacionalização das empresas deles."

Os chineses podem representar a tábua de salvação para o Brasil, segundo Roberto Dumas:

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"Quando se pensa nas relações entre China e Brasil, há que se pensar também na situação política brasileira, especialmente no que diz respeito à Operação Lava Jato. Há um monte de empresas, alvos dessa operação, que estão sendo vendidas. Só que não há mais ninguém para comprar estas empresas. Então, os chineses vêm pra cá com recursos e acabam comprando essas empresas – quer queira quer não – com preços lá embaixo. E eles precisam desses recursos, principalmente as empresas citadas na Lava Jato. São empresas chinesas que, enfim, vão cobrir uma imensa lacuna que as empresas brasileiras vão deixar, principalmente na área de infraestrutura. É um movimento que vai continuar crescendo e muito."

O especialista também adverte que os chineses, embora discretos em relação à política interna de outros países, tem clara percepção do que se passa no ambiente político brasileiro. Por isso, exigirão cuidados e garantias para investir seus recursos no Brasil:

"O chinês entende de finanças mas também percebe a realidade política brasileira. E o chinês detecta onde existe corrupção. Mas o chinês se habituou a pensar em planos quinquenais para organizar sua economia. Então, como ele pensa? Simplesmente assim: daqui a cinco anos, isso já passou. O meu retorno importa? Certamente que sim. Mas eu quero receber meu retorno juntamente com garantia de acesso a recursos naturais. E vai conseguir. Por isso, eu não tenho dúvidas de que os chineses virão muito mais vezes ao Brasil porque eles têm muito o que investir e o que comprar por aqui. Uma coisa que a gente sempre pergunta: dá para acreditar que o chinês vai ajudar o Brasil a melhorar sua atividade econômica? Sim, mas não pelo lado da importação de produtos brasileiros. O Brasil, queira ou não, é um país muito fechado. Mas, pelo lado da infraestrutura, isso aquece o interesse da China sobre o Brasil. Só para você ter uma ideia: o Brasil investe todo ano 2,2% do PIB em infraestrutura. E, para melhorar a produtividade, seria necessário investir 5,5% por ano até 2030. Resumindo: isso significa 240 bilhões de reais todo ano até 2030. Então, vem outra pergunta: quem vai assegurar esses investimentos? O governo? Os empresários? O BNDES? Não, os recursos estão se esvaindo. Logo, o investimento será dos chineses desde que encontrem suficientes abertura e garantias para o retorno do seu capital."   

A imprensa brasileira, que acompanha Michel Temer na China, apurou que nesta sexta-feira, 1 de setembro, deverão ser anunciados investimentos chineses nos mais variados negócios, entre os quais, infraestrutura e comércio exterior. Na quinta, 31, Temer se reuniu com executivos de quatro grandes corporações que têm negócios no Brasil: State Grid, Huawei, Three Gorges Corporation e HNA. A State Grid, por exemplo, quer construir uma linha de transmissão de energia elétrica ligando a Usina de Belo Monte, no Pará, à Região Sudeste. A linha, a maior do país, terá 2.518 quilômetros de extensão. A HNA, que comprou a fatia da Odebrecht no Consórcio RioGaleão, administrador do Aeroporto Internacional Tom Jobim, pretende transformar o Aeroporto Tom Jobim num grande hub de ligação entre a Ásia e a América Latina.

Outra grande empresa chinesa, a Fuzhou Airlines, vai comprar 20 aviões da Embraer, fechando negócio da ordem de 1 bilhão e meio de dólares.

A parceria ente Brasil e China também envolve investimentos em cinema e futebol, de forma que o mercado chinês estará cada vez mais receptivo aos jogadores que atuam no Brasil.

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