Tudo isso antes de participar da reunião de cúpula dos BRICS (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) em Xiamen, nos dias 3, 4 e 5. Como disse Temer, em vídeo divulgado no mesmo dia (29 de agosto) em que embarcou para Pequim, sua expectativa é de convencer o governo e o empresariado da China a investir no Brasil.
Michel Temer é recebido pelo presidente da República Popular da China, Xi Jinping na chegada ao Grande Palácio do Povo, em Pequim. pic.twitter.com/OX1IQ5AKSp
— Agora No Planalto (@AgoraNoPlanalto) 1 de setembro de 2017
Especialista em Economia da China, Roberto Dumas, Professor do Insper (Instituto de Ensino Superior em Negócios, Direito e Engenharia), analisou em entrevista exclusiva para a Sputnik Brasil o que o Brasil pode ganhar com esta aproximação maior com a China. Roberto Dumas, que viveu por muitos anos na China e foi Professor da Universidade de Fudan, adverte que, antes de fechar negócios, o Brasil precisará aprender a lidar com a China e com os chineses.
Dumas analisou as razões de os chineses estarem se voltando tanto para os países da África e da América Latina, com especial interesse pelo Brasil:
"O sentido dos investimentos chineses no Brasil e em países da África é macroeconômico e geopolítico. Desde 2008, quando houve a crise econômica nos Estados Unidos, os Estados Unidos pararam de comprar da China com a intensidade com que vinham comprando. Então, de 2008 para cá, os chineses passaram a procurar terceiros mercados e viram na América Latina e na África excelentes terceiros mercados. Mas não só por isso: os chineses estão vindo com tudo para esses países para, também, ter acesso a produtos naturais e porque isto faz parte do processo de internacionalização das empresas deles."
Os chineses podem representar a tábua de salvação para o Brasil, segundo Roberto Dumas:
O especialista também adverte que os chineses, embora discretos em relação à política interna de outros países, tem clara percepção do que se passa no ambiente político brasileiro. Por isso, exigirão cuidados e garantias para investir seus recursos no Brasil:
"O chinês entende de finanças mas também percebe a realidade política brasileira. E o chinês detecta onde existe corrupção. Mas o chinês se habituou a pensar em planos quinquenais para organizar sua economia. Então, como ele pensa? Simplesmente assim: daqui a cinco anos, isso já passou. O meu retorno importa? Certamente que sim. Mas eu quero receber meu retorno juntamente com garantia de acesso a recursos naturais. E vai conseguir. Por isso, eu não tenho dúvidas de que os chineses virão muito mais vezes ao Brasil porque eles têm muito o que investir e o que comprar por aqui. Uma coisa que a gente sempre pergunta: dá para acreditar que o chinês vai ajudar o Brasil a melhorar sua atividade econômica? Sim, mas não pelo lado da importação de produtos brasileiros. O Brasil, queira ou não, é um país muito fechado. Mas, pelo lado da infraestrutura, isso aquece o interesse da China sobre o Brasil. Só para você ter uma ideia: o Brasil investe todo ano 2,2% do PIB em infraestrutura. E, para melhorar a produtividade, seria necessário investir 5,5% por ano até 2030. Resumindo: isso significa 240 bilhões de reais todo ano até 2030. Então, vem outra pergunta: quem vai assegurar esses investimentos? O governo? Os empresários? O BNDES? Não, os recursos estão se esvaindo. Logo, o investimento será dos chineses desde que encontrem suficientes abertura e garantias para o retorno do seu capital."
(AI) A China está entre os principais parceiros comerciais do Brasil. Saiba mais: https://t.co/K9ZiqTLO14 pic.twitter.com/EKdagjAifr
— Michel Temer (@MichelTemer) 1 de setembro de 2017
A imprensa brasileira, que acompanha Michel Temer na China, apurou que nesta sexta-feira, 1 de setembro, deverão ser anunciados investimentos chineses nos mais variados negócios, entre os quais, infraestrutura e comércio exterior. Na quinta, 31, Temer se reuniu com executivos de quatro grandes corporações que têm negócios no Brasil: State Grid, Huawei, Three Gorges Corporation e HNA. A State Grid, por exemplo, quer construir uma linha de transmissão de energia elétrica ligando a Usina de Belo Monte, no Pará, à Região Sudeste. A linha, a maior do país, terá 2.518 quilômetros de extensão. A HNA, que comprou a fatia da Odebrecht no Consórcio RioGaleão, administrador do Aeroporto Internacional Tom Jobim, pretende transformar o Aeroporto Tom Jobim num grande hub de ligação entre a Ásia e a América Latina.
Outra grande empresa chinesa, a Fuzhou Airlines, vai comprar 20 aviões da Embraer, fechando negócio da ordem de 1 bilhão e meio de dólares.
A parceria ente Brasil e China também envolve investimentos em cinema e futebol, de forma que o mercado chinês estará cada vez mais receptivo aos jogadores que atuam no Brasil.