Além dos altos preços e das tensas relações com a China (em particular, os organizadores sul-coreanos dos Jogos culpam a China e o Japão de realizar pouca publicidade), é preciso destacar a probabilidade de que nos próximos meses haja uma escalada das tensões ao redor do país vizinho, ou seja, da Coreia do Norte. O especialista em assuntos coreanos da Academia de Ciências da Polônia, Nicolas Levi, disse para a Sputnik França que a garantia de segurança plena dos Jogos será uma tarefa difícil para a Coreia do Sul.
"As autoridades da Coreia do Sul decidiram instalar mísseis em um dos bairros onde devem ter lugar os Jogos Olímpicos, na província de Gangwon […] A instalação desses mísseis visa ameaçar a Coreia do Norte para que interrompa suas provocações. Porém, as autoridades norte-coreanas não param, continuam provocando da mesma forma como fazem todos os anos."
Segundo Levi, um dos objetivos do líder norte-coreano seria acabar com os Jogos Olímpicos.
"Em particular, Kim Jong-un busca desestabilizar a situação na Coreia do Sul, fazendo com que ela não cumpra sua missão de organizar os Jogos Olímpicos de Inverno, que serão realizados na Coreia do Sul daqui a 5 ou 6 meses."
Ao mesmo tempo, não tentando justificar as ações da Coreia do Norte, surge uma questão: a intensificação dos testes de armas nucleares e mísseis balísticos seria ou não um sinal de que a Coreia do Sul também estaria sofrendo com a política norte-americana na região?
"Eu acredito que Kim Jong-un tenha medo da administração norte-americana e esteja procurando o mais rápido possível comprovar que suas tecnologias nucleares – e não apenas elas – são capazes de repelir a intervenção militar norte-americana. Em minha opinião, Kim Jong-un não exclui a oportunidade de uma guerra-relâmpago na península da Coreia, por isso vem realizando vários testes de mísseis balísticos nos últimos meses."
Em geral, como ressaltou o diretor do Instituto francês de Estudos Internacionais e Estratégicos, Pascal Boniface, Kim Jong-un não espera ter o mesmo destino de Kadhafi ou de Saddam Hussein.
La Corée du Nord ne renoncera jamais à l arme nucléaire car Kim Jong On ne veut pas finir comme Saddam Hussein ou Kadhafi
— Pascal Boniface (@PascalBoniface) 3 de setembro de 2017
O líder norte-coreano compreende as consequências da escalada nas relações com os EUA, mesmo que ela não venha a levar a ações militares, frisa Levi:
"Kim Jong-un tem uma clara noção de que as sanções internacionais em relação à Coreia do Norte podem representar ameaça a seu país. Se o acesso ao petróleo for bloqueado completamente (o país conta com reserva para 5 ou 6 meses), protestos dentro do país poderiam ser iniciados. Não se trata da perda da face do regime norte-coreano, mas sim da provocação de conflito na península. Dá para imaginar a Coreia do Norte atacando a Coreia do Sul para pegar suas reservas de petróleo, e assim por diante. É bastante provável. Kim Jong-un é um líder imprevisível, ninguém sabe o que ele é capaz de fazer", concluiu.