A notícia não seria surpreendente, não fosse o fato de que as duas nações não são amigas, mas sim inimigas declaradas. E a iniciativa de Tel-Aviv em ajudar Damasco não é exatamente humanitária, conforme mostra reportagem do jornal The Washington Post desta semana.
Diariamente, famílias inteiras chegam às Colinas de Golan, na fronteira entre os dois países, em busca de refúgio contra a guerra na Síria. Como parte do programa 'Bons Vizinhos', Israel costuma permitir a entrada de sírios feridos no país. A mesma iniciativa também permite o envio de comida, combustível e outros itens para o lado sírio da fronteira.
Todavia, um objetivo mais importante para Israel joga uma luz sobre o programa: ao criar uma zona "amigável" entre os dois países, Tel-Aviv quer manter o movimento xiita libanês Hezbollah – com o qual já entrou em guerra por três oportunidades nos últimos 10 anos – longe do país.
O presidente sírio Bashar Assad, o Irã e o Hezbollah formam uma tríade que vem combatendo os terroristas do Daesh e os opositores do próprio Assad em território sírio. Tal aliança é vista com muitas reservas por Israel, que prefere a permanência dos militantes sunitas na fronteira entre os dois países, como é o caso hoje.
Como o jornal estadunidense bem lembra, a região das Colinas de Golan foi tomada da Síria em 1967, para depois ser anexada ao território israelense. E embora as autoridades locais digam que mais de 3.000 sírios recebem ou receberam ajuda médica, ou que mais de 360 toneladas de alimentos foram enviadas ao outro lado da fronteira, as feridas entre os dois países permanecem.
A estratégia de trocar ajuda humanitária por segurança já foi usada por Tel-Aviv em outros tempos, notoriamente em episódios envolvendo as ameaças do Líbano ou de milícias palestinas. Quando necessário, ataques são realizados – a Síria vem denunciado bombardeios israelenses nos últimos meses, o que o vizinho não nega ou confirma.