Na terça-feira, Temer afirmou, em seu discurso de abertura da Assembleia Geral da ONU, em Nova York, que "os primeiros dados disponíveis para o último ano já indicam diminuição de mais de 20% no desmatamento na Amazônia".
O índice usado pelo presidente é do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) e, em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil, o pesquisador Antônio Victor Fonseca, coordenador do Boletim de Monitoramento do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) da instituição, criticou a suposta precisão apontada por Temer.
"O dado referenciado de 20% é em comparação aos alertas mensais de desmatamento do calendário de 2017 [de agosto a julho], em comparação com o de 2016. A base de dados gerados pelo Imazon não são a taxa oficial de desmatamento da Amazônia, que é gerado pelo INPE. É outra metodologia, com imagens de satélite. Não medimos a área desmatada, e sim apontamos tendências", afirmou.
Até o dia 20 de cada mês, o Imazon divulga levantamentos sobre tendências de crescimento ou queda do desmatamento na Amazônia. O último boletim do instituto, de julho de 2017, mostrou que o desmatamento na floresta caiu 21%, mas por outro lado ele subiu em 22% em unidades de conservação.
De acordo com Fonseca, além da imprecisão do contexto e do dado apresentado por Temer na Assembleia Geral da ONU, os recentes indicativos do governo federal batem de frente com a ideia de que exista um trabalho em prol da diminuição do desmatamento da Amazônia.
A polêmica em torno da Reserva Mineral de Cobre e seus Associados (Renca) é um exemplo. No seu último boletim, o Imazon apontava justamente a preocupação quanto o aumento do desmatamento em áreas de conservação ou terras indígenas.
"Já há uma tendência de desmatamento em áreas de proteção na região amazônica. É um fato preocupante, até pela importância fundamental na questão da diversidade, e a gente observa a perda florestal ao longo dos anos, associada aos projetos de lei que defendem a redução ou extinção de algumas reservas de conservação. Isso chama a atenção e serve de alerta", avaliou o pesquisador.
Uma avaliação cabal acerca do desmatamento na Amazônia virá nas próximas semanas, quando o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) deverá soltar o seu balanço anual a respeito do assunto. Segundo o índice mais recente (2015-2016), houve um aumento de 27% do desmatamento da floresta.