Estudo realizado pela Capgemini — empresa global de serviços de consultoria, tecnologia e terceirização, realizado em 19 países — revela que o número de milionários brasileiros passou de 148,5 mil em 2015 para 164,5 mil em 2016, e que o patrimônio acumulado por esse grupo saltou de US$ 3,7 trilhões para US$ 4,2 trilhões. A expansão desse seleto grupo foi de 10,7%.
O Relatório sobre a Riqueza Mundial 2017 aponta ainda que os recursos dos mais ricos do mundo cresceram 13,5% sobre 2015 e podem chegar a US$ 100 trilhões até 2025. Mas qual seriam os motivos para tal disparidade no Brasil, onde o salário mínimo está abaixo de R$ 1 mil?
Em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil, Ricardo Teixeira, economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV), diz que três fatores principais devem ser levados em consideração para explicar o aumento dos novos milionários. Segundo ele, o comportamento de quem já está com algum recurso e pode investir difere totalmente daquele que está tentando sobreviver e de quem, eventualmente, pode perder o seu emprego.
"A posição do Brasil está muito parecida com a do Oriente Médio e em linha com a dos BRICS. Primeiro, o estudo foi feito ao longo de 2016, quando o real se valorizou frente ao dólar em torno de 20%, o que, por si só, já justificaria um número maior de pessoas incluída nesse grupo. Outra questão importante é que muitas pessoas passaram a investir em fundos lastreados em ativos internacionais. Com o crescimento da economia mundial, isso também alavanca as fortunas", analisa Teixeira.
O economista da FGV cita, por fim, um terceiro elemento que poderia explicar o aumento desse contingente de brasileiros endinheirados: a repatriação de recursos não declarados no exterior. O estudo da Capgemini atribui o aumento do número de milionários tanto no Brasil quanto no mundo a entradas das chamadas Big Techs no mercado de gestão de patrimônio, oferecendo altos retornos, com média de 24,3%, muitas vezes bem acima de investimentos tradicionais. Para Teixeira, essa é uma tendência que deve crescer nos próximos anos.
"Se a gente pensar que hoje os computadores já estão definindo processos jurídicos e sentenças e que a tecnologia da informação já permite que você faça diagnósticos médicos muito apurados e em alguns casos dispensando até o homem, a gente deve acreditar que a tecnologia amanhã possa ser o melhor orientador de investimento, já que tem condições de fazer cálculos e projeções com rapidez muito maior do que a do ser humano e corrigir rapidamente também o rumo quando alguma coisa sai de controle", finaliza o economista.