"Fiquei totalmente chocado, mesmo que isso tenha sido esperado", disse Thorne por telefone para a Rádio Sputnik na terça-feira (3).
"Também fiquei um pouco decepcionado, pois o sucesso do LIGO na descoberta de ondas gravitacionais, bem como na criação de uma nova maneira de fazer astronomia, é resultado de esforços conjuntos de mais de mil cientistas e engenheiros. Dentre eles, há, talvez, uns cem que foram absolutamente cruciais; sem eles isso não teria acontecido”, adicionou modestamente o físico.
Sendo assim, o cientista, considerado um dos principais especialistas do mundo na área de implicações astrofísicas da teoria da relatividade geral de Einstein, disse que receberá o prêmio em nome de toda a equipe.
Quando lhe pediram para comentar as implicações da descoberta coletiva, Thorne especificou que ela possui enorme importância, pois, através dela, segredos do universo serão desvendados.
"As leis da natureza como as entendemos [em muitos aspectos graças a Einstein] dizem que há somente dois tipos de ondas que podem se propagar pelo universo ou podem nos dar o entendimento do que está acontecendo no outro lado do universo: ondas eletromagnéticas, raios X, luz, ondas de rádio e gama pertencem a um grupo, já no outro grupo entram as ondas gravitacionais", explicou o físico.
"Assim como a astronomia eletromagnética revelou coisas fascinantes e brilhantes sobre a riqueza do nosso universo durante estes 400 anos, é possível que a astronomia gravitacional faça a mesma coisa nos próximos 400 anos. Ou seja, ela abre algo realmente fantástico para a raça humana no que diz respeito à exploração do universo."
Thorne explicou a razão de ter levado tanto tempo para cientistas desenvolverem detectores para medição de ondas gravitacionais. O cientista admitiu que quando Dr. Rainer Waiss, inventor desses detectores, descreveu para ele o princípio do seu funcionamento, ele chegou a pensar que a tarefa seria impossível.
"Ele me convenceu de outra forma, através de discussões detalhadas e [estudos], mas isso é inimaginavelmente difícil, pois esses movimentos estão muito pequenos", Thorne está se referindo ao conjunto de instrumentos criados e aperfeiçoados por 40 anos para medir ondas gravitacionais.
"Em longo prazo (de 10 a 20 anos), vamos assistir ao nascimento do universo, nascimento das forças fundamentais; ondas gravitacionais são o único tipo de radiação tão penetrante que quando foram criadas em momentos primários, viajam ilesas por nós, trazendo consigo informações sobre o que estava acontecendo nos momentos iniciais do universo."
"Então, ondas gravitacionais serão uma ferramenta de explorar o processo de nascimento do universo, como ele se expandiu rapidamente, como surgiu força elétrica etc. Tudo isso será desvendado nos próximos 20 anos. O que acontecerá nos próximos 400 anos, o análogo de Galileu de hoje, eu não sei, mas, sem dúvidas, será fantástico", concluiu Thorne.