Erro crasso: que sucederá se Trump ousar se lançar em verdadeira guerra com Teerã

© AP Photo / Vahid SalemiOs efetivos do o Corpo de Guardiões da Revolução Islâmica (CGRI) durante um desfile militar (foto de arquivo)
Os efetivos do o Corpo de Guardiões da Revolução Islâmica (CGRI) durante um desfile militar (foto de arquivo) - Sputnik Brasil
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A possível saída estadunidense do acordo nuclear com o Irã pode não ser o último gesto hostil em relação à república islâmica. O colunista da Sputnik, Vladimir Ardaev, explica o que Washington pretende alcançar ao provocar os aiatolás iranianos.

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De acordo com o autor, os analistas, inclusive ocidentais, avisam que, caso Washington cumpra sua ameaça de incluir o Corpo de Guardiões da Revolução Islâmica (CGRI) na lista de organizações terroristas, isto significará, de fato, a proclamação de uma grande guerra política contra Teerã, com todas as consequências graves.

Enquanto isso, a maioria dos parceiros comerciais e econômicos do Irã em todo o mundo ficarão sob ameaça de novas sanções, realça Ardaev.

Todos pela mesma medida

A hipótese de que o Corpo de Guardiões da Revolução Islâmica seja proclamado como organização terrorista foi ouvida ainda várias semanas atrás e voltou a soar há pouco tempo. Porém, dentro dos próprios EUA logo surgiram preocupações sobre o elevado risco relacionado com tal passo, inclusive dentro do Departamento da Defesa e da CIA.

Os especialistas em segurança internacional avisam a administração de Trump que se uma instituição militar de elite do Irã, influente nas esferas política e econômica, ficar na mesma lista que a Al-Qaeda e o Daesh, organizações terroristas proibidas na Rússia e em vários outros países, isso poderia agravar a situação na Síria, no Iraque, no Afeganistão, no Líbano, no Iêmen e em outros "pontos quentes".

"O Corpo de Guardiões da Revolução Islâmica e o Comando Central das Forças Armadas dos Estados Unidos (Centkom) foram aproximadamente na mesma altura, no limiar das décadas de 70 e 80 do século passado. Naqueles dias, na zona do golfo [Pérsico] se desencadeou a primeira guerra — entre o Irã e o Iraque. Ambas essas forças, tanto o Corpo de Guardiões da Revolução Islâmica, quanto o Centkom, começaram travando operações militares fora dos seus países. Hoje em dia, a zona de responsabilidade do Centkom abrange o Oriente Médio, África do Norte e Ásia Central, ou seja, fica perto da fronteira iraniana. Além disso, ela se cruza com a zona de atuação da Força Quds, unidade especial do Corpo responsável pelas operações no exterior", explica Ardaev.

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Além disso, ambas as forças tomam uma parte ativa das operações terrestres contra jihadistas na Síria e no Iraque, ou seja, combatem o mesmo inimigo. De acordo com o colunista, caso Washington realmente ouse classificar o Corpo como uma organização terrorista, isto "pouco mudará" o retrato do conflito, que já é muito multifacetado.

"Mas quanto a qualquer tipo de cooperação, a nível diplomático ou militar, entre as forças combatentes que, de fato, estão do mesmo lado, esta pode ser esquecida para sempre. Além disso, surge o perigo real de confrontos armados. Mas mesmo que tal não suceda, isso não contribuirá de maneira alguma para a estabilização na região e uma maior eficiência na luta contra as organizações terroristas islâmicas", frisa o autor.

Quem é o beneficiário?

Entretanto, as possíveis consequências de tal decisão por parte da Casa Branca não se limitam apenas à região do Oriente Médio.

Primeiro, o Corpo é uma instituição estatal e uma parte integrante das Forças Armadas iranianas. Assim, caso as tropas de maior elite de um país inteiro passem a ser classificadas de terroristas, bem como seus efetivos, isto, de fato, provocará uma espécie de guerra entre os EUA e o Irã, acredita o especialista do Centro de Estudos do Oriente Médio e Ásia Central, Semen Bagdasarov.

"Não será uma guerra na qual se travam combates", será uma guerra clandestina, ou seja, a dos serviços secretos, que abrange, particularmente, o apoio dado aos movimentos separatistas curdos, sunitas ou balúchis no Irã, assinala o especialista.

"Já faz muito que algumas estruturas curdas e azeris no Ocidente se manifestam a favor de proclamar o Corpo de Guardiões da Revolução Islâmica como uma organização terrorista. A coisa é que, nesse caso, eles vão adquirir uma oportunidade quase legal de obter novos meios para lutar contra o CGRI que, por sua vez, está também encarregado de combater o separatismo", adianta Bagdasarov.

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De acordo com o analista, os principais responsáveis por tal iniciativa da administração Trump são os lobbys israelenses. Não é de estranhar, pois os construtores da política externa iraniana costumam classificar nomeadamente os EUA e Israel como principais inimigos do país, enquanto a liderança do CGRI pertence aos círculos principais do establishment político iraniano.

"O próximo passo da administração Trump bem pode ser a proclamação de todo o Irã como terrorista internacional. E isso já é um passo em direção a uma guerra real", acredita o diretor do Instituto Internacional de Análise Política, Yevgeny Minchenko.

Apenas sanções novas

O Corpo de Guardiões da Revolução Islâmica, na verdade, é um dos pilares do regime iraniano.

"A política de Trump no Oriente Médio se torna cada vez mais imprevisível, e fica cada vez mais difícil analisá-la e prognosticar quais consequências acarretaria mais uma medida nova por parte da Casa Branca", acredita o analista principal do Departamento do Oriente Médio do Instituto de Estudos Orientais da Academia de Ciências da Rússia, Kirill Vertyaev.

Yevgeny Minchenko ressalta, sobretudo, que o CGRI não é apenas uma força militar e política influente no Irã, mas também um ator sério na esfera da economia. A entidade possui uma série de grandes empresas, mas, de fato, a sua influência sobre os empresários iranianos vai muito além delas: na verdade, quase nenhum grande acordo comercial no país se celebra sem participação dela.

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Deste modo, a "estigmatização" do CGRI como organização terrorista tocaria também interesses no Ocidente.

Bagdasarov, por sua vez, assinala que novas medidas contra Teerã poderiam levá-la a se aproximar de outros países, tais como a Rússia e a China.

"Por um lado, é um fator positivo para Moscou. Por outro, isto dará a Washington mais uma oportunidade de voltar a acusar o Kremlin de apoiar os regimes terroristas", resumiu.

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