Os mesmos críticos argumentam que, enquanto o atual regime iraniano existir, o Irã "continuará tentando minar a estabilidade e a ordem no Oriente Médio", de forma aberta ou clandestina, "independentemente dos limites estabelecidos pelos acordos bilaterais e multilaterais", escreve Farley.
Esse desejo de mudar o governo do Irã não é difundido apenas nos Estados Unidos. Israel, que aplaudiu a decisão do presidente estadunidense, Donald Trump, de sair do acordo, concorda com a hipótese de um golpe de Estado em Teerã. Já a Arábia Saudita, seu rival geopolítico, também não se opõe a este passo, ressalta o autor.
Mas, ao mesmo tempo, até os oponentes mais duros de Teerã reconhecem que tal campanha traria "poucos sucessos" e seria muito dispendiosa. Então, o que está em jogo para os Estados Unidos em uma possível guerra contra o país persa?
Invadir do país
Mas, para isso, os Estados Unidos devem derrubar o regime pela força das armas e para tal são necessárias bases militares na região, algo que Washington não tem nesta área.
"O exército dos Estados Unidos poderia implantá-las no Iraque, mas isso significaria mudar igualmente o atual governo de Bagdá com o uso da força", continua o especialista.
Os americanos também poderiam entrar no Irã por meios anfíbios, mas isso "deixaria as forças dos EUA em uma posição muito vulnerável" perante o arsenal de mísseis balísticos de Teerã.
Sufocar o país com sanções
"Uma das críticas principais ao acordo nuclear com o Irã, expressas pelos apoiantes da mudança de regime, é que, passado algum tempo, o regime de sanções introduzido pelos Estados Unidos poderia conduzir ao colapso da República Islâmica. Essa asfixia poderia gerar um descontentamento popular suficiente e necessário", explica Farley.
Os EUA também poderiam incentivar esse colapso através de uma política de estrangulamento não somente militar, mas também econômica.
"Durante as primeiras etapas da campanha, [os EUA] se focariam em atacar a infraestrutura militar iraniana, o que causaria danos consideráveis, apesar do país ter um sistema de defesa aérea, que também seria atacado. As forças navais e aéreas também ficariam bastante danificadas. Neste ponto, os EUA poderiam atacar a economia iraniana, incluindo as instalações de petróleo e a infraestrutura de transporte, o que acabaria por destruir a economia petroleira iraniana", afirmou.
No entanto, tais ataques levariam a questionar a política externa estadunidense e o direito internacional, adverte Farley.
"Os EUA poderiam se defender dizendo que a infraestrutura que está na base da economia do Irã representa uma ameaça legítima […] mas seria difícil para eles "vender" isso [para a comunidade internacional], especialmente devido a inevitáveis vítimas civis", argumentou.
A possível resposta dos aiatolás
Mas o Irã não ficaria de braços cruzados, adverte.
"O país poderia responder com esforços para desestabilizar o Iraque e o Afeganistão, usando o poder que continua mantendo nesses territórios", disse.
Através dos grupos que o país persa controla fora do país, ele poderia atacar os aliados dos EUA ou, sem precisar ir tão longe, usar seu grande arsenal de mísseis balísticos para atacar bases, navios e instalações militares dos aliados estadunidenses.
"No entanto, o mais provável é que o Irã simplesmente aguarde, esperando que a posição negativa da comunidade internacional em relação à campanha dos EUA acabe com sua beligerância", reflete Farley.
Deste modo, afirma o analista, parece improvável que uma mudança de regime acabe bem. O mais provável é que tais tentativas causem ainda mais problemas. Ademais, qualquer ataque contra o Irã faria com que os Estados Unidos não tivessem o apoio internacional necessário para tal campanha. A incerteza sobre uma intervenção militar não é favorável e os Estados Unidos não têm hoje em dia o apoio internacional a esse respeito.