A análise é de Eduardo Heleno de Jesus, professor do Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense (UFF), que analisou, com exclusividade para a Sputnik Brasil, como fica o quadro político depois desse anúncio.
A decisão de Capriles foi tomada em resposta a decisão do dirigente do Ação Democrática (AD), Henry Ramos Allup, de ter aceitado participar da cerimônia que juramentou, na Assembleia Nacional Constituinte, os parlamentares eleitos nas últimas eleições regionais, em que os aliados de Maduro conquistaram 18 dos 23 estados do país. Embora a eleição tenha tido seus resultados contestados por 12 países sul-americanos, entre eles o Brasil, Comunidade Europeia, Estados Unidos e Canadá, Maduro comemorou o fato como uma grande vitória do bolivarianismo.
Na prática, a Assembleia Nacional Constituinte é a força que hoje governa a Venezuela do ponto de vista legislativo, deixando o Parlamento, onde a maioria opositora tem maioria simples, reduzido a um simples papel figurativo.
"A saída do Capriles mostra que há um racha muito grande dentro da MUD. A AD foi um partido fortíssimo na Venezuela, governou o país por 23 anos, e o próprio Allup esteve presente em outros momentos da política venezuelana: foi um dos primeiros críticos ao Carlos Andrés Peréz (presidente entre 1974 e 1979 e de 1989 a 1993), participou de uma série de ações contra o Chávez — a imagem dele está associada tentativa de golpe de 2002. A ação dele nas eleições está marcada por uma série de acusações dentro da própria MUD", observa o professor.
Heleno de Jesus recorda que Capriles acusou Allup de manobrar com os cinco governadores eleitos da oposição, dos quais quatro da AD. Segundo o professor, o fato desses cinco governadores prestarem juramento perante a Assembleia Constituinte acabou sendo um reconhecimento da legitimidade da própria eleição por parte da oposição.
Na quarta-feira, 25, durante um fórum em Miami, o ex-chefe do governo espanhol José Maria Aznar fez um apelo para que a oposição venezuelana se una e não aprofunde ainda mais as divisões com a anunciada saída de Capriles. O encontro reuniu diversos ex-chefes de estado da América do Sul com visão neoliberal, como Fernando de La Rúa e Eduardo Duhalde (Argentina), Luiz Lacalle (Uruguai), Jorge Quiroga (Bolívia), entre outros.
"Todos esses ex-dirigentes têm um corte ideológico pró-oposição na Venezuela e querem ser uma espécie de uma voz legítima no exterior para buscar estimular a oposição, que ficou muito enfraquecida depois do resultado das eleições. Pela atual situação, é muito difícil ver de que maneira eles podem dar uma força maior. A divisão entre o Capriles e o Allup vai exigir a reconstrução de passos, uma vez que há insatisfação também com outros líderes da oposição", finaliza o professor do Instituto de Estudos Estratégicos da UFF.