A notícia foi dada pelo ministro da Agricultura e Pecuária, Blairo Maggi, após reunião com representantes da Frente Parlamentar Agropecuária. A alegação do governo brasileiro é que o Uruguai, além dos grandes volumes, está exportando também produtos lácteos de outros países, se beneficiando da isenção de cobrança de tarifas entre os países do bloco. O governo uruguaio nega a acusação e diz que a decisão é injustificável e vem no momento em que o bloco tenta negociar abertura de novos mercados.
A suspensão das importações está sendo comemorado pelos produtores nacionais, em especial os do Sul do país. Em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil, Ernesto Krug, vice-presidente da Associação Gaúcha de Laticinistas e Laticínios do Rio Grande do Sul e diretor do Instituto Gaúcho do Leite, afirma que a medida é necessária, uma vez que há vários anos os pecuaristas brasileiros vêm sofrendo com as importações de lácteos da Argentina e do Uruguai.
"Desde os anos 70, as importações vindas do Uruguai e da Argentina têm prejudicado enormemente a produção de leite no Brasil. Todas as grandes crises de mercado que tivemos sempre foram antecedidas por essas importações. Em função desta crise, este ano, tivemos a saída de 28 mil produtores, o que é um grave problema social e econômico para o estado", diz Krug, lembrando que são antigas as suspeitas de que, junto com os lácteos uruguaios, venham também a de outros países. Segundo ele, este tem sido o pior ano nas três últimas décadas para os produtores locais.
O Rio Grande do Sul é considerado o estado maior produtor do país em qualidade e produtividade, com uma oferta de cerca de cinco bilhões de litros por ano. Minas Gerais, contudo, está liderança com nove bilhões de litros/ano. Krug ressalta a função social da indústria do leite no Brasil.
"A cadeia que dá mais ocupação no Brasil é o leite. É a atividade mais importante, embora, em termos econômicos, fique atrás da soja, da carne de frango e de gado. Se analisarmos em termos de ocupação de emprego, contudo, é o primeiro produto."
Para o presidente da associação, a solução, além da proibição temporária das importações de lácteos do Uruguai, seria a fixação de uma política de preços por parte do governo federal e a fixação de cotas, nos mesmos moldes do que acontece hoje para as exportações da Argentina, limitadas a 54 mil toneladas mensais de leite em pó. Segundo dados do governo uruguaio, o país exporta US$ 500 milhões em lácteos por ano para o Brasil. O leite é o quarto maior produto da pauta de exportação do país vizinho, atrás de cereais, sementes e frutos oleaginosos e carne.
Para alguns especialistas, se o impasse não for logo resolvido, ele pode afetar o intercâmbio comercial entre os dois países que foi de US$ 3,9 bilhões em 2015, já abaixo dos US$ 4,8 bilhões de 2014. Do lado brasileiro, os maiores embarques para Uruguai são combustíveis, veículos, plásticos, maquinário e café. Apesar de importante para a economia uruguaia, a agricultura responde por apenas 7,4% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, abaixo da contribuição da indústria (20,4%) e do setor de serviços (72,2%).