O ministro saudita de Relações do Golfo, Thamer al-Sabhan, disse à televisão Al-Arabiya que Saad al-Hariri, que anunciou sua renúncia como primeiro ministro do Líbano no último sábado, foi informado de que atos de "agressão" pelo Hezbollah "foram considerados atos de declaração de guerra contra a Arábia Saudita pelo Líbano e pelo Partido Libanês do Diabo".
Os sauditas subiram o tom após o secretário-geral do Hezbollah, Hassan Nasrallah, afirmar que a renúncia do primeiro-ministro do Líbano foi causada por Riad.
"É claro que a renúncia foi uma decisão saudita que foi imposta ao primeiro-ministro [Saad] Hariri. Não era sua intenção, seu desejo e sua decisão", disse Nasrallah em discurso televisionado.
No sábado, o primeiro-ministro libanês abandonou o cargo de maneira repentina. A decisão foi transmitida pela televisão por meio de uma gravação feita em Riad. Hariri disse temer uma "conspiração contra sua vida" e fez críticas ao Irã e ao Hezbollah.
O dirigente do Hezbollah, entretanto, afirmou que não o grupo não desejava a renúncia de Saad. O Hezbollah fez parte do governo do agora ex-primeiro-ministro por cerca de um ano. Nasrallah também pediu "calma, paciência e espera até que as razões [da renúncia] tornem-se claras" e questionou o local escolhido para o anúncio.
Da sua parte, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, classificou a renúncia de Hariri como um sinal para a comunidade internacional sobre a necessidade de "agir contra a agressão iraniana" no Oriente Médio.
"A renúncia do primeiro-ministro libanês Hariri e suas observações são um alerta para a comunidade internacional para agir contra a agressão iraniana que está tentando transformar a Síria em um segundo Líbano. Esta agressão põe em perigo não só Israel, mas todo o Oriente Médio. A comunidade internacional precisa se unir e enfrentar essa agressão", disse Netanyahu, em um comunicado divulgado no Twitter no sábado.
Para a Arábia Saudita, o Hezbollah é uma organização terrorista e aliada do rival regional Irã. Estabelecido na década de 1980, o grupo é uma organização paramilitar e política originária da população xiita do Líbano. O grupo inicialmente surgiu para acabar com a ocupação israelense ao sul do Líbano. Além disso, a organização lutou uma guerra contra Israel em 2006.
Hariri foi primeiro-ministro de 2009 a 2011 e voltou a ocupar o cargo em novembro de 2016. Seu pai, Rafik Hariri, foi morto em 2005 como resultado de uma explosão em Beirute. Um tribunal especial em Haia acusou cinco membros do Hezbollah de planejar e executar o assassinato de Rafik.
Ainda é incerto quem será o sucessor de Hariri no cargo. Dentro do atual acordo de divisão de poderes que ajudou a encerrar a guerra civil do Líbano (1975-1990), o presidente precisa ser cristão, o primeiro-ministro sunita e presidente do Parlamento um xiita.
Irã nega acusações
O porta-voz do Ministério de Relações Exteriores iraniano Bahram Qassemi, respondendo às alegações de Hariri contra Teerã, chamou a renúncia do primeiro-ministro libanês de "um novo cenário para criar tensão no Líbano e na região".
"A repetição do primeiro-ministro libanês de acusações infundadas contra o Irã pelos sionistas, sauditas e americanos testemunha o fato de que essa renúncia também é um novo cenário para criar novas tensões no Líbano e na região, mas acreditamos que o povo libanês é forte também passará facilmente nesta fase", disse o porta-voz.
Qassemi enfatizou que o Irã sempre buscou paz e estabilidade na região, acrescentando que Teerã e Beirute gozam de boas relações.
"Como o presidente do Líbano destacou as boas as relações políticas entre os dois países e rejeitou qualquer acusação de interferência do Irã no Líbano, a República Islâmica do Irã também sempre respeitou a independência do Líbano e [a necessidade de] manter a estabilidade e a tranquilidade. Expressamos a disponibilidade para cooperar com o governo libanês em áreas de interesse mútuo", concluiu Qassemi.