Não é generosidade: por que Rússia se esforça para evitar o calote de Caracas?

© Sputnik / Aleksei Kudenko / Acessar o banco de imagensPresidente russo Vladimir Putin com o presidente da Venezuela Nicolás Maduro durante seu encontro em Moscou, em 4 de outubro de 2017
Presidente russo Vladimir Putin com o presidente da Venezuela Nicolás Maduro durante seu encontro em Moscou, em 4 de outubro de 2017 - Sputnik Brasil
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Moscou e Caracas firmaram um acordo para reestruturar a dívida venezuelana no valor de 3,15 bilhões de dólares (R$ 10,4 bilhões). Entretanto, essa decisão da Rússia não é propriamente um ato de generosidade: o acordo é benéfico para ambas as partes e a Rússia também tem seus interesses, disse Olga Samofalova, colunista do jornal russo Vzglyad.

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O Ministério das Finanças da Rússia comunicou que "o novo plano prevê pagamentos ao longo dos próximos 10 anos, com parcelas mínimas nos primeiros seis meses".

O alívio da dívida permitirá à Venezuela "alocar fundos ao desenvolvimento da economia do país, melhorar a solvência, aumentará as possibilidades de todos os credores recuperarem os créditos que concederam ao país latino-americano".

O vice-presidente da Venezuela para a Área Econômica, Wilmar Castro Soteldo, declarou que as condições mais flexíveis de amortização da dívida permitirão aumentar as trocas comerciais entre os dois países.

Nesta semana, a Venezuela ficou à beira de calote, afirmou a autora do artigo. Em 13 de novembro o país não pagou 200 milhões de dólares (R$ 655 milhões) em juros da empresa petrolífera estatal PDVSA e entrou em default seletivo. A agência de notação S&P considera possível que Caracas volte a entrar em suspensão de pagamentos nos próximos três meses.

"A Rússia é um dos maiores credores da Venezuela. Caracas deve a Moscou cerca de 8 bilhões de dólares [R$ 26 bilhões]", sublinhou Samofalova.

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Segundo ela, a petroleira estatal russa Rosneft está entre os que não estão interessados na falência da Venezuela. A empresa russa trabalha ativamente e ajuda a Venezuela a nível financeiro: o país latino-americano recebeu da Rosneft 6 bilhões de dólares (R$ 20 bilhões) como pré-pagamento de futuros fornecimentos de petróleo.

Além disso, a Rosneft tem ações em petroleiras venezuelanas e obtém prioridade nos projetos de petróleo do país. A empresa russa, por exemplo, recebeu 49,9 por cento das ações da refinaria norte-americana Citgo Petroleum, como forma de garantir o pagamento do empréstimo de 2016 à PDVSA.

"A Rússia não está interessada no calote da Venezuela, porque nesse caso seus ativos, ações nas empresas petroleiras, incluindo na Citgo, serão vendidas por causa das dívidas", explicou Kiril Yakovenko da empresa Alor Broker, citado pela periodista.

A Rússia precisa da Venezuela também como aliado na arena internacional. Em particular, sendo membro da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), a Venezuela apoia as decisões mais vantajosas para a Rússia, sublinhou Yakovenko.

"Moscou e Caracas têm vários tratados onde são aliados […] Portanto, nos convém apoiar este país", disse Pavel Sigal, vice-presidente da organização russa de pequenas e médias empresas Opora Rossii.

Com mais de 400 bilhões de dólares de reservas internacionais (R$ 1,3 trilhão), "A Rússia pode permitir-se esta generosidade", destacou Samofalova.

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A situação na Venezuela melhorará apenas com o crescimento dos preços do petróleo. Segundo estimativas de analistas ocidentais, a Venezuela necessita de um preço de petróleo de 120 dólares por barril. Entretanto, de acordo com as previsões mais otimistas, o preço deste combustível crescerá até 83 dólares só daqui a sete ou oito anos. 

"Entretanto, durante todo este tempo a Rússia terá que prestar apoio ao seu aliado latino-americano", concluiu a especialista.

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