Ouriço com fuzil, esquilo em tanque: eis os filmes de animação da criançada norte-coreana

© Sputnik / Ilya PitalevAs crianças visitam o Zoológico Central de Pyongyang
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Tiroteios, explosões, sangue e cadáveres – isso e muito mais é o que a gente pode encontrar no antigo filme de animação norte-coreano "O Esquilo e o Ouriço" que se tornou o primeiro projeto de seriado de animação norte-coreano, bem como um dos mais populares.

"É pouco provável que na Coreia do Norte haja uma pessoa que nunca ouviu falar dos corajosos esquilos-sabotadores, que destroem os planos das malvadas doninhas com a ajuda de sua sagacidade e trotil", escreve o colunista da Sputnik, Andrei Olfert, no seu artigo autoral.

Juche ou morte

Os episódios de teste do legendário filme "O Esquilo e o Ouriço" apareceram ainda nos anos 1977-1982 e representaram um gênero bem invulgar para a época — um filme de ação com elementos de drama de espionagem.

No filme, os bons animais do Morro das Flores repelem a ofensiva de um exército de doninhas e ratos guerreiros e, ao longo de todo o seriado, combatem contra os representantes malvados da sua própria espécie, conta Olfert. Com a ajuda de ouriços das "Forças Especiais" e a "aviação" de patos, a unidade de esquilos espiões consegue escapar da perseguição por todas as vezes, descobrir os planos secretos do comandante das doninhas e fazer gorar a ofensiva geral.

"Parece que não é preciso explicar que os esquilos, ouriços e patos bons neste filme de animação representam os próprios norte-coreanos, enquanto os esquilos, martas, lobos e ratos malvados — os EUA e seus ‘fantoches' sul-coreanos", escreve o colunista.

De acordo com o autor, os fofos esquilos e ouriços que estão dispostos a sacrificar qualquer coisa pela sua pátria eram o melhor modelo para a geração da época, ou seja, aquela que crescia nos tempos da profunda crise no país na década de 90. Por isso um dos traços especiais do seriado eram as cenas de autossacrifício: ouriços e patos se fazem explodir com granadas, se lançam em colisão com aparelhos inimigos e demonstram de todas as formas sua lealdade ao Morro das Flores e seus líderes.

Porém, conta o autor, a segunda temporada do seriado sofreu um fracasso, mesmo com novos gráficos e personagens, por isso a produção do filme se interrompeu ainda em 2012.

Yankees malditos

Entretanto, os principais protagonistas de "O Esquilo e o Ouriço" continuam uns dos mais conhecidos no país, sendo que as crianças os descobrem ainda no jardim de infância.

Embora o seriado dificilmente possa ser chamado de infantil, para a Coreia do Norte, que tem vivido em uma guerra não acabada com os EUA, as numerosas cenas de violência são compreensíveis e adequadas, pois o "inimigo é ainda mais violento e está todo o tempo construindo planos para escravizar ou mesmo eliminar por completo a pátria pacífica", sublinha o autor.

"Porém, de toda a lista geral, o filme 'O Esquilo e o Ouriço' é uma obra bem neutra. No início da animação norte-coreana, os inimigos frequentemente eram representados não por imagens de animais, mas em figuras bem concretas de militares estadunidenses", adianta Olfert.

Como exemplo, o autor cita um filme "baseado em eventos reais" da década de 60, "O Destacamento Queimado de Moscas-da-Carne", que retrata as tentativas norte-americanas de usar armas biológicas no tempo da Guerra da Coreia usando insetos contaminados com cólera.

Outro filme — "Bomba-Relógio" (1967) — é mais politicamente correto, afirma o colunista, mas também faz alusões bem concretas. Nessa película, um soldado estadunidense recebe a ordem de fazer explodir uma barraca com o cartaz "Fora, militares americanos!" e coloca uma bomba perto de uma menina doente que estava lá dentro. A menina é salva por mera coincidência: de repente, seu irmão volta a casa e coloca a bomba ao pescoço do cachorro do militar que, por sua vez, a leva ao dono para o posto de comando das forças dos EUA.

"Mas nem toda a animação norte-coreana representa apenas os horrores da agressão estadunidense e tiroteios sem parar. 'O Esquilo e o Ouriço' é, provavelmente, uma exceção a toda uma série de filmes infantis bem pacíficos", sublinha o autor.

Eita, que guaxinim!

Entre os temas populares na arte norte-coreana, além da luta contra uma ameaça estrangeira e o reforço do Estado, estão as competições esportivas e de outros tipos. Neste respeito, o líder incondicional é o filme "O Guaxinim Inteligente".

Começando com disparos de morteiro, ele passou para as modalidades esportivas civis, se tornando em um dos maiores protagonistas de animação na Coreia do Norte: ele "participou" de 63 episódios no período entre 1987 e 2012.

Acompanhado por um ursinho e por um gatinho, um guaxinim participa de corridas de automóvel por rochas íngremes ou pratica basebol e wakeboard. Não é o mais rápido e mais forte, mas, graças a sua calma e inteligência vence em tudo o que faz. Às vezes, ele até se vê obrigado a libertar seus amigos de um carro-geladeira, salvá-los de um ieti ou até protegê-los de um ataque de asteroides.

O campo maravilhoso

As películas que falam de diversos produtos agrícolas ocupam um nicho particular no cinema de animação norte-coreano, frisa Olfert.

Deste modo, no filme "A Batata no Vale Fragrante", de 2000, as vigorosas unidades de batatas-comandos vêm em auxílio das forças do arroz e milho, derrotando com facilidade o exército dos insetos com sua artilharia química. O filme acaba com uma festa de diferentes artigos produzidos com este alimento.

De volta para o futuro

Ao longo dos últimos anos, na Coreia do Norte têm surgido cada vez mais filmes de animação de divulgação científica que falam, por exemplo, do dia-a-dia dos simples alunos das escolas de Pyongyang. As películas ensinam às crianças que se deve tomar os remédios a tempo, não fartar com comida os animais e não botar água demais no gramado para que cresça bem.

Há também um seriado para os mais pequenos que fala dos comportamentos com os quais se pode ganhar "estrelinhas vermelhas" para avançar na competição especial pré-escolar.

"Os atuais alunos norte-coreanos devem não apenas saber como a gente detecta a chegada de um terremoto, mas também como encontrar respostas para as questões que lhes coloca a exploração do espaço levada a cabo pela liderança norte-coreana", resumiu o jornalista.

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