Gás, bem como o petróleo, é um dos fatores-chave em conflitos globais: basta relembrar o caso do Qatar ou o da Ucrânia. É por isso que o público internacional está tão interessado no Fórum de Países Exportadores de Gás que se dará entre 21 e 24 de novembro na cidade de Santa Cruz de la Sierra.
"Este é um evento muito importante para a América Latina, pois envolve muitos países da região. Desde o México até a Argentina, estas terras sempre foram abençoadas com jazidas de petróleo, gás e outros tipos de energias renováveis e não renováveis", frisou o analista Alejandro Sánchez.
"A cúpula decorrerá exatamente no momento em que o mercado de gás está passando por várias etapas de desenvolvimento e se torna capaz de concorrer", sublinhou o secretário-geral do fórum, Mohammad Hossein Adeli.
O que é o Fórum de Países Exportadores de Gás?
A plataforma foi fundada em 2001 no Irã, dado que seus participantes permanentes são: Argélia, Bolívia, Egito, Guiné Equatorial, Irã, Líbia, Nigéria, Qatar, Rússia, Trinidad e Tobago, Emirados Árabes Unidos e a Venezuela. Quanto aos países associados, são o Iraque, Cazaquistão, Azerbaijão, Holanda, Noruega, Omã e Peru.
A exploração de carboidratos é uma esfera importante de cooperação entre a Rússia, a China, o Irã e os países da América Latina, por isso tais plataformas como o GECF adquirem uma importância especial.
Por que a Bolívia sediará o 4º Fórum?
A Bolívia e a Venezuela são os líderes entre os países da América Latina na esfera de produção e exportação de gás natural. Além disso, para a Bolívia, o gás é o principal produto de exportação que traz cerca de US$ 4 bilhões (quase R$ 13 bilhões) anualmente. A experiência deste país pode servir como exemplo das políticas conduzidas para o desenvolvimento do setor de gás.
Cooperação russo-boliviana no setor energético
A Bolívia mantém relações amistosas com a Rússia, um dos maiores produtores de gás do mundo, particularmente com a corporação russa Gazprom. A empresa boliviana Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos YPFB começou a cooperação estratégica com a Gazprom em 2007, após celebrar o memorando de entendimento, relembrou o especialista.
"A Gazprom já está se debruçando sobre o bloco Incahuasi, onde a produção começou em 2016. Supõe-se que no ano que vem a empresa comece a explorar a jazida no bloco Acero. A Gazprom também manifestou seu interesse pela busca de carboidratos em tais regiões, como La Ceiba e Madidi", assinalou.
Ademais, La Paz celebrou acordos com outras empresas-chave russas, tais como a Rusatom, líder na esfera de energia e tecnologias nucleares. Em concordância com o acordo com a Agência Boliviana de Energia Nuclear, será construído um centro de pesquisa com reator, laboratórios e centro de testes com radiação gama. O custo total do projeto é avaliado em US$ 300 milhões (quase R$ 1 bilhão).
Não se descarta que as Forças Armadas deste país latino-americano incluam a compra de equipamentos militares russos no plano de sua modernização, adiantou Sánchez.
O que sucederá com Qatar?
O presidente boliviano, Evo Morales, bem como a chancelaria do país, encararam a necessidade de organizar a cúpula de uma OPEP "de gás" justamente no momento em que os países-participantes estão passando por certa tensão nas relações bilaterais. Isso tem a ver, particularmente, coma a crise diplomática que se deu em torno do Qatar, maior exportador de gás liquefeito, entre os outros países do mundo árabe.
Em junho de 2017, a Arábia Saudita, o Egito, os EAU e uma série de outros países romperam as relações diplomáticas com Doha e suspenderam a cooperação com Qatar, acusando-o de apoiar o terrorismo.
"Será interessante ver como eles resolverão esta situação. Alguns países agora têm relações diplomáticas bem prejudicadas, mas, ao mesmo tempo, todos os países estão interessados na indústria de gás em suas economias e eu espero que eles possam descartar suas divergências geopolíticas para encontrar um consenso capaz de dar frutos", resumiu.