Autora do convite para o comparecimento do ministro, a deputada Erika Kokay (PT-DF) falou com exclusividade para a Sputnik Brasil sobre a sua iniciativa. Integrante da Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público, ela afirmou que Nogueira não pode se recusar a comparecer à Câmara, mesmo com o caráter facultativo do convite:
"O ministro Ronaldo Nogueira é parlamentar e sabe que não pode desrespeitar o Congresso Nacional, deixando de atender ao convite de uma das casas legislativas (no caso, a Câmara dos Deputados) para prestar esclarecimentos. Se o convite não for aceito, poderemos transformá-lo em requerimento de convocação para seu comparecimento obrigatório."
Kokay está convencida de que Ronaldo Nogueira terá de explicar o inexplicável, ou seja, as razões do governo para dificultar a caracterização do trabalho escravo, deixando esta questão a inteiro critério do titular do Ministério do Trabalho:
A deputada disse não saber ainda a data exata em que o ministro comparecerá à Câmara, mas está decidida a questioná-lo sobre o que considera ser uma "moeda de troca" do governo com a bancada ruralista, de modo a impedir que as denúncias contra o presidente Michel Temer, formuladas pelo ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot, fossem apreciadas pelo Supremo Tribunal Federal:
"Provavelmente, o ministro comparecerá à Comissão do Trabalho da Câmara na terça ou na quarta-feira da próxima semana, dias 28 ou 29 de novembro. O compromisso que temos é o seguinte: se o ministro não atender ao convite, ele será convocado. Esta portaria surgiu de um processo que eles [governantes] não escondem mais, de uma grande negociação com a bancada ruralista dentro da própria Casa. A bancada ruralista é super dimensionada dentro da Câmara porque ela é super representada. Nós sabemos que essa Portaria veio para atender aos interesses dessa bancada, uma autêntica moeda de troca para que as denúncias contra o presidente da República não possam ser apreciadas pelo Supremo Tribunal Federal."
Na primeira denúncia, Rodrigo Janot acusou Michel Temer de corrupção. E na segunda denúncia, Temer e dois de seus principais ministros (Eliseu Padilha, da Casa Civil, e Moreira Franco, da Secretaria da Presidência da República) foram denunciados por organização criminosa e obstrução de justiça.
A cientista política Clarisse Gurgel, professora da UNIRIO, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, também tem a visão de que a Portaria 1129 funcionou como uma verdadeira barganha com a classe política:
"Essa Portaria tem o caráter do modo de produção em que a gente vive. A política se apresenta como um mercado e essa Portaria se apresenta, sem dúvida nenhuma, como uma verdadeira moeda de troca em relação à essa bancada ruralista que tem grande peso no Congresso e se mostra preocupada com o nível de exposição que os empregadores rurais teriam com a possível divulgação de seus nomes se eventualmente incluídos na chamada lista suja. O que mais preocupa é que toda essa movimentação caminha no sentido de proteger os empregadores rurais e, num sentido mais amplo, os empregadores urbanos com a entrada em vigor da reforma trabalhista."