Para o professor de Relações Internacionais Ricardo Cabral, pesquisador da Escola de Guerra Naval e estudioso de questões relacionadas ao terrorismo internacional, a cooperação entre Brasil e Rússia é antiga e, neste momento, mais do que oportuna:
"Essa aproximação entre Rússia e Brasil é histórica, vem desde os tempos do Império. Temos de ressaltar que, em alguns momentos, esses laços foram estremecidos por questões de política internacional, mas Rússia e Brasil sempre cooperaram, e muito mais intensamente nos últimos dez anos."
Na avaliação de Cabral, os últimos eventos esportivos internacionais realizados no Brasil reforçaram os laços com a Rússia:
"Essa aproximação, em termos de segurança internacional, teve seus pontos altos em dois momentos, na Copa do Mundo de 2014 e nas Olimpíadas [do Rio de Janeiro] de 2016. Aqui, felizmente, não temos atentados terroristas mas a Rússia esse ano sofreu dois atentados. E a Rússia tem uma larga experiência no combate ao terrorismo. O que nós [no Brasil] podemos oferecer é essa expertise de medidas bastante intensivas, como, por exemplo, a presença ostensiva de tropas militares nas ruas."
Ricardo Cabral lembrou que a Rússia observa a política de alertar seus parceiros para a possibilidade da ocorrência, em seus países, de atos terroristas. Segundo ele, neste ano, o presidente Vladimir Putin alertou a Espanha sobre atos terroristas que poderiam ocorrer no país, "como aconteceu, aquele atentado de Barcelona".
"O Presidente Putin alertou para a necessidade de cooperação internacional [em segurança] para prevenir novos atentados. A Rússia, desde [os Jogos de Inverno de 2014] de Sochi, tem feito um cadastro de todos os torcedores que vieram ao país, assim como fez na Copa das Confederações deste ano. É um ensaio que foi feito para a Copa do Mundo [de 2018], com a adoção de medidas de contraterrorismo."
O especialista considera que, em termos de segurança internacional e institucional, a cooperação entre países é indispensável e fundamental. Para ele, o aprendizado é mútuo. O Brasil, segundo Cabral, aprendeu muito com a experiência russa, europeia, chinesa e israelense, o que contribuiu muito para o sucesso dos últimos eventos esportivos realizados em território brasileiro.
"Eu gosto de ressaltar a possibilidade de termos algumas delegações [para a Copa de 2018] que são sempre alvo de muita preocupação, como é o caso de Arábia Saudita, Nigéria, Egito, os países europeus que sofreram atentados nos últimos anos, como Reino Unido, França, Espanha, Alemanha, Bélgica e a própria Rússia. Eu acredito, pelo que tenho acompanhado na mídia, que as medidas de segurança irão se intensificar na medida em que a Copa se aproximar."
Ricardo Cabral deu um exemplo de como o Brasil conseguiu retirar a tempo do país representantes de uma das torcidas mais perigosas da Argentina, Barra Bravas, impedindo-os de cometer possíveis atos violentos no país:
"Para a Copa do Mundo do Brasil, foi elaborada uma relação de integrantes da Barra Bravas e a identificação de alguns desses elementos dentro dos estúdios permitiu às autoridades brasileiras retirá-los, detê-los e enviá-los de volta ao seu país. E como eles entraram no Brasil mesmo sabendo dos riscos que iriam enfrentar? Simples, pela permeabilidade das fronteiras do Brasil. Então, eu acredito que a Rússia esteja tomando as mesmas medidas de cautela no sentido de identificar elementos de risco que possam causar preocupação para a Copa do Mundo de 2018."