Fim da crise? Qual é o futuro do Iêmen após a morte do ex-presidente Saleh?

© AP Photo / Hani MohammedRebeldes xiitas, conhecidas como houthis, protestam contra ataques aéreos sauditas
Rebeldes xiitas, conhecidas como houthis, protestam contra ataques aéreos sauditas - Sputnik Brasil
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Nesta segunda-feira (4), os houthis iemenitas anunciaram que tomaram o controle da capital do país, Sanaa. Mais cedo no mesmo dia, os rebeldes assassinaram o ex-presidente do Iêmen, Ali Abdullah Saleh, que governou o país até 2012.

No momento, os houthis patrulham as ruas vazias da cidade em seus tanques e afirmam que chegou o "fim da crise". Contudo, a nação realmente já pode respirar aliviada?

Não há nada que freia a coalizão saudita

Presidente do Iêmen Ali Abdullah Saleh durante o encontro com Vladimir Putin, 2010 (foto de arquivo) - Sputnik Brasil
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De acordo com a especialista em assuntos do Oriente Médio do Instituto Shafaqna de Londres, Catherine Shakdam, é difícil falar sobre qualquer alívio da crise, já que após a morte do ex-líder iemenita "não há nada que freia a coalizão saudita".

Segundo explicou a especialista, Saleh, que se alinhou com os sauditas pouco antes de ser assassinado, rompendo uma aliança incômoda com os houthis, "ele ainda era capaz de manter o diálogo com a coalizão saudita, conseguiu manter aberta a comunicação e negociar para que os iemenitas recebessem a ajuda humanitária". A operação militar liderada por Riad resultou no desastre humanitário no Iêmen, que afetou aproximadamente 20 milhões de pessoas que precisam de ajuda urgente.

O ex-presidente iemenita também apelava para as forças da coalizão para "deterem sua agressão, levantarem o cerco, abrirem os aeroportos […] e ajudarem os feridos", acrescentou Shakdam.

Guerra real, vingativa e pessoal

Um menino olha para a câmera enquanto se senta nos destroços de uma casa destruída por um ataque aéreo liderado pelos sauditas nos arredores de Sanaa, Iêmen. - Sputnik Brasil
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O presidente em exercício do país, Abd Rabbuh Mansur Hadi, insistiu para os iemenitas "se levantarem contra" os houthis, ordenando realizar uma ofensiva maciça contra as forças rebeldes em Sanaa e prometeu uma anistia para aqueles que abandonarem o grupo.

Por sua vez, os houthis "mantêm uma linha religiosa que pode assustar muitas pessoas que querem ver uma república no Iêmen", opinou Shakdam, acrescentando que "qualquer motivação [para evitá-lo] foi encapsulada por Saleh, e agora ele morreu". Além do mais, a situação pode resultar em uma "catástrofe", afirmou a especialista, já que o Iêmen está aberto "para Al-Qaeda e milícias wahhabitas que estiveram na Síria e no Iraque".

Shakdam explica que no meio desta situação, ao contrário do que houthis afirmam, a crise iemenita não terminou "nem por um momento". A analista advertiu que a situação poderia resultar em uma "guerra real em que as tribos vão buscar vingança", adicionando que o confronto tornou-se "muito vingativo e muito pessoal". 

"Foi um fracasso dramático"

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O analista político Omar Nashabe, em entrevista ao canal russo RT, também expressou suas preocupações de que o Iêmen possa enfrentar mais derramamento de sangue no futuro, pois é possível que os sauditas pressionem o país, causando mais agressão e destruição. No entanto, Nashabe descreveu como "fracasso drástico" o fato de que Saleh mudou de lado no conflito e "criou uma conspiração contra os houthis".

De acordo com o especialista, Riad e seus aliados estão tentando criar coalizões com as forças locais por meio de "pressão financeira" e "promessas para o futuro". Contudo, "estes elementos de corrupção não funcionaram, porque depois de tantos anos de bombardeios sauditas a população iemenita não está disposta para negociar com sauditas como se nada tivesse acontecido".

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