Esta é a opinião de Diego Pautasso, professor de Relações Internacionais na ESPM-Sul e na Unisinos. Em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil, o docente – especialista em Brics (o quinteto formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) –, é preciso considerar algumas variáveis históricas que podem estar por trás da decisão do COI.
"A gente ainda não tem todos os elementos para verificar o caráter, o julgamento, os autos do processo [do COI] contra a Rússia. Agora, tentando montar um quadro a partir dos elementos que a gente tem, considerando que o esporte foi uma variável decisiva na Guerra Fria, no tensionamento, na disputa, no conflito entre as duas principais potências [mundiais], Rússia e Estados Unidos, considerando que os países Brics se tornaram protagonistas nos Jogos Olímpicos como sedes de competições esportivas internacionais como Olimpíadas, Paralimpíadas, Copas do Mundo [2010 na África do Sul, 2014 no Brasil, 2018 na Rússia], é de se desconfiar que haja componente político, ainda mais considerando que as grandes organizações do esporte como COI e FIFA não são propriamente geridas por 'fadas encantadas'", disse.
Para o analista, diante do histórico que envolve os bastidores de grandes eventos esportivos, é preciso buscar compreender quem são os personagens envolvidos tanto na decisão do COI quanto os alvos diretamente atingidos pela medida, anunciada na última terça-feira.
"As denúncias são recorrentes e então, é de se botar as barbas de molho e tentar analisar [os fatos] com um pouco de acuidade, tentando identificar os atores que estão por detrás desta trama que parece extravasar o campo meramente esportivo", emendou.
"Russofobia"
Pautasso comentou também que não se pode descartar o momento presente na geopolítica mundial, no qual os sentimentos antirussos vêm sendo bastante difundidos, sobretudo no Ocidente – no que seria, segundo ele, uma campanha patrocinada pelos Estados Unidos.
"Soa muito estranho o fato de que a Rússia tenha sido o único país punido nesse escândalo de doping [no caso das Olimpíadas do Brasil] e, recorrentemente, tenha praticado os mesmos atos e comprometido toda uma trajetória da Rússia, que é muito competitiva nos Jogos Olímpicos internacionais e, portanto, é dotada de muito profissionalismo", ponderou.
"São elementos pouco usuais na gestão do esporte. Eu confesso que estou bastante plasmado com isso. Se nós associarmos todo um ingrediente antirusso, russofóbico, no Ocidente, patrocinado pelos Estados Unidos, a gente fica, realmente, com as barbas de molho como se costuma dizer", completou o especialista.
O professor ainda elogiou a atitude do presidente russo Vladimir Putin que, nesta quarta-feira, anunciou que a Rússia não proibirá nenhum atleta do país de competir de forma neutra nas Olimpíadas de Inverno da Coreia do Sul, desde que atenda às exigências do COI de não ter feito uso de doping, nem estar sob investigação de qualquer irregularidade.
"O presidente Putin tomou a decisão acertada. Jogaram a casca de banana para que ele, eventualmente, tivesse o ímpeto de punir os atletas que quisessem participar das competições [da Coreia do Sul], de maneira independente e, com isso, fortalecer essa imagem ocidental russofóbica e anti-Putin. Acho que o Putin fez uma leitura muito correta e se desviou da casca de banana", concluiu Pautasso.