Os membros da comissão compararam levantamentos anteriores realizados por três comissões, incluindo o da Comissão Nacional da Verdade, que descartou a hipótese de assassinato. O relatório, com mais de 1.700 páginas, abordou ainda outras violações de direitos humanos em Minas, bem como desparecimentos, mortes e torturas de camponeses, sindicalistas, trabalhadores, indígenas, políticos e servidores públicos.
O relatório, segundo o coordenador-geral da Covemg, Robson Souza, consultou fichas do Departamento de Ordem e Política Social (DOPS), da ex-presidente Dilma Rousseff, do governador do Estado, Fernando Pimentel (PT) e do ex-prefeito de Belo Horizonte Márcio Lacerda (PSB), que foram presos e conviveram no Presídio de Linhas (MG) por integrarem movimentos estudantis que protestavam contra a ditadura.
O coordenador da Covemg diz que a comissão recolheu toda a documentação disponível, como os relatórios da Comissão Nacional da Verdade, da Comissão da Verdade de São Paulo, que também apontava para a possibilidade de um atentado político contra JK e perícias em relação aos dois veículos, que revelaram uma série de incongruências e divergências.
"Naquele período, várias personalidades acabaram sendo mortas não só no mundo político, como no caso da Zuzu Angel (estilista desaparecida no Rio em 1976). Com esse conjunto de novas evidências, chegamos à conclusão de que é possível e provável que no caso de JK tenha sido um atentado político e não acidente. Com todas as dificuldades de obter dados que ainda não vieram à tona, não podemos dizer que o estudo é conclusivo, mas tem bastante robustez", diz Souza, lembrando que os trabalhos levaram quatro anos e contaram com a colaboração de mais de 100 pessoas, bolsistas de doutorado e mestrado em Direito.
"A comissão investigou uma série de violações de direitos humanos, não só no período da ditadura militar, como no período de 1946 até 1988. Ampliamos bastante o escopo das comissões anteriores da verdade ao comprovar uma extensa rede de relações que envolveu as práticas de arbítrio, tortura e da violência institucional durante a ditadura militar", diz Souza.
"Embora não tenha poder de Justiça, a comissão faz uma série de recomendações muito claras às três esferas de poder no estado (legislativo, executivo e judiciário) porque, muitas das práticas gestadas durante a ditadura militar ainda persistem hoje, como a arbitrariedade policial, a seletividade da Justiça, todos os tipos de violações às comunidades de afrodescendentes, etnias indígenas, a escassez de políticas públicas e um sistema prisional que ainda tem a prática da tortura." O relatório está disponível no seguinte link.