No primeiro turno, Piñera obteve 36% dos votos e Guillier, 22%. Agora, Piñera tenta captar votos de Antonio Cast, candidato da extrema direita, que recebeu 8% no primeiro turno, enquanto Guilier busca o apoio de Beatriz Sánchez, da Frente Ampla, a grande surpresa do primeiro turno com 20% da preferência dos eleitores. No Legislativo, a situação de Piñera é um pouco melhor: o Chile Vamos conseguiu eleger 73 deputados, ou 47% da Câmara, enquanto no Senado o partido obteve 12 das 23 cadeiras (52%).
Para Denilde Holzhacker, professora da Escola Superior de Propaganda e Marketing de São Paulo (ESPM-SP), o cenário é completamente imprevisível. Segundo ela, o grande número de indecisos e dos que pretendem não votar e o apoio real que Guillier possa obter de Sánchez vão pesar bastante nos resultados. Ao contrário do Brasil, o voto não é obrigatório no Chile.
"O Chile é um país onde os momentos políticos ora estão mais à direita, ora na centro-esquerda. Se for confirmada a vitória de Piñera, vai haver uma guinada mais à direita, mas qualquer um dos dois candidatos vai ter grandes desafios, como aumentar novamente a exportação. O país sofreu muito com a queda dos preços das commodities e agora, com o aumento do preço do cobre, há uma pequena recuperação”, analisa.
Denilde diz que a eleição no Chile dá início a um processo de renovação na América Latina, com as eleições que ocorrerão em 2018 no Brasil e na Colômbia. A especialista da ESPM-SP não vê uma volta do continente a um modelo mais conservador. Na sua visão, a crise econômica impactou profundamente os países da região, afetando mais os governos de linha mais progressista que tinham programas de inclusão social e distribuição de renda.
"A gente tem um fenômeno que acontece em vários países da América Latina que é o aumento da criminalidade. No Chile, uma das coisas fortes no discurso de Piñera e da extrema direita é a cobrança de uma ação contra esse aumento, combate ao narcotráfico e à imigração. Aí você junta duas inseguranças: a econômica e a pública, que têm uma atração muito forte."
A professora da ESPM-SP admite que há pressões consideráveis de grupos da elite para que sejam revistas algumas das políticas adotadas pela presidente Michelle Bachelet, como a da ampliação da universidade pública e a maior tributação sobre empresas.