No primeiro turno, Piñera — empresário dono de um patrimônio de US$ 2,7 bilhões, segundo a revista Forbes — obteve 36,6% dos votos, 14 pontos percentuais à frente do candidato da presidente Michelle Bachelet. No segundo turno neste domingo, votaram 7 milhões dos 14,3 milhões de eleitores, quase 300 mil a mais do que no primeiro turno, mas ainda assim uma abstenção de quase 50%. No Chile, o voto não é obrigatório.
Para Rafael Villa, o discurso moderado de esquerda, para não assustar a classe média, contribuiu para a derrota de Guillier, que não conseguiu, assim, angariar votos da terceira colocada, Beatriz Sánchez, candidata da Frente Ampla, da esquerda radical. Piñera, por seu lado, obteve apoio dos partidos de centro e de direita. Este será seu segundo mandato. O primeiro foi de 2010 a 2014, quando foi substituído por Bachelet, hoje a única mulher na presidência em toda a América Latina.
"Uma onda de governos conservadores chegou à América Latina e tende a se consolidar. Primeiro foi a Argentina, depois o Peru e agora com o governo de Piñera. Isso significa uma nova derrota para o campo de esquerda, que tem necessidade de se reorganizar e se aproximar de sua base. De outro lado, significa que o campo da nova direta que está emergindo na América Latina está ocupando um espaço cada vez maior", diz o professor da USP. Villa acredita que a derrota de Guillier está relacionada à estratégia de campanha.
"Ele não quis assustar alguns setores de centro e por isso não fez uma campanha mais incisiva. Ele pagou um preço por ter sido tão pouco assertivo em relação aos setores que estão mais à esquerda. Ele poderia ter ampliado esse leque de alianças." Para o especialista, políticas adotadas por Bachelet – como a ampliação da universidade pública e o aumento da tributação às empresas — certamente uniram os setores mais conservadores em torno da candidatura de Piñera.
Seja como for, analistas observam que Piñera não terá um mandato fácil, isso porque, apesar de seu partido o Avante Chile tenha sido o mais votado nas eleições de novembro, obtendo 72 cadeiras, a sigla não conquistou a maioria absoluta no Parlamento, o que obrigará o novo presidente a fazer um pacto com outros partidos para levar adiante suas reformas neoliberais.
Villa chama a atenção para o fato de que 2018 será um ano importante de eleições na América Latina, com pleitos no México, Colômbia, Venezuela, Brasil e Paraguai. Na sua visão, hoje há uma tendência de que essa nova onda conservadora continue, principalmente no México e na Colômbia.
"Vai depender de cada caso específico. No Brasil, por exemplo, há o fator Lula e o que acontecerá com ele. Se for candidato, a possibilidade de se repetir esse quadro (de aumento da direita) diminui muito. No Paraguai, possivelmente, essa tendência se consolide, enquanto na Venezuela é uma questão bastante indefinida. Se o Lula sai do páreo por essas questões judiciais, a tendência será de uma consolidação muito forte do conservadorismo na América Latina", conclui o professor da USP.