Dívida dos norte-americanos volta a colocar em perigo bem-estar global

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Cartão de crédito - Sputnik Brasil
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O endividamento dos norte-americanos volta a crescer para níveis alarmantes. A situação lembra bastante a de 2008, quando a crise hipotecária do país provocou a queda da economia mundial, cujas consequências ainda hoje se fazem sentir.

Os dados publicados em dezembro pela Reserva Federal (Fed, o banco central norte-americano) indicam que, apenas em outubro, os empréstimos ao consumo aumentaram 20,5 bilhões de dólares (R$ 68,3 bilhões) – um crescimento de 6,5% em comparação com o mesmo período no ano anterior – e atingiram 3,8 trilhões de dólares (R$ 12,7 trilhões).

"A coisa mais preocupante de tudo isso é que, tal como há dez anos, está crescendo a proporção dos 'maus' empréstimos, que são os créditos oferecidos aos devedores com histórico de crédito duvidoso. Ou seja, são empréstimos cuja recuperação é obviamente problemática", disse o colunista da Sputnik Vladimir Ardaev.

Foi precisamente o que precedeu a crise de 2008, quando a proporção de empréstimos de alto risco aumentou de 8% a 20% em apenas dois anos. Ao mesmo tempo, os preços da habitação aumentaram, o mercado hipotecário diminuiu e aumentou o número de despejos provocados por incumprimento de pagamentos.

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Estes e outros fatores levaram a uma redução substancial do comércio de valores e, como resultado, rebentou uma crise econômica que derrubou outras economias interligadas como se se tratasse de peças de dominó.

Perder a casa por um bitcoin

O fato de os norte-americanos estarem acostumados a viver endividados não é nada de novo. Segundo o Fed, mais de 40% das famílias gastam mais do que ganham. O seu bem-estar aparente baseia-se em 165 milhões de cartões de crédito ativados anualmente nos EUA. A isso se juntou uma nova categoria de despesa: as criptomoedas. De acordo com Joseph Borg, presidente da Associação de Administradores de Valores Mobiliários dos Estados Unidos, cada vez mais norte-americanos pedem créditos para adquirir criptomoedas usando suas casas como fiança.

Segundo Borg, seus compatriotas são persuadidos pelas inúmeras histórias da mídia em que cidadãos comuns se tornam milionários. Em abril de 2010, o primeiro lote de mil bitcoins tenha sido vendido por 0,3 cêntimos de dólar (cerca de um real), em dezembro de 2017 o preço de um bitcoin é de cerca de 17 mil dólares (R$ 57 mil). Entretanto, Borg adverte: quanto maior for o preço de uma moeda, maior será o perigo. Todos os que querem enriquecer correm o risco de cair em um abismo de endividamento e perder tudo.

Crise das tulipas do século XXI

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A capitalização das criptomoedas não para de crescer. No fim de 2017, seu volume total superou 510 bilhões de dólares (R$ 1,7 trilhão). Mais de metade dessa soma corresponde a bitcoins, com 276 bilhões de dólares (R$ 921 milhões). A capitalização do ethereum se estima em 71,1 bilhões (R$ 237 bilhões), seguida pelos 32,4 bilhões de dólares (R$ 108 bilhões) do bitcoin cash, 22,5 bilhões de dólares (R$ 75 bilhões) do sistema de pagamento Ripple e 16,4 bilhões (R$ 55 bilhões) de litecoins.

A coisa mais perigosa nessa situação é que as pessoas gastam suas poupanças reais em uma moeda virtual que não é baseada em outra coisa senão a aceitação, ou não, de sua contraparte, disse à Sputnik o presidente do Centro de Comunicações Estratégicas, Dmitry Abzalov.

"As criptomoedas se comportam na bolsa como nenhuma outra moeda. Sua volatilidade é extremamente alta. O próprio bitcoin pode perder 20% do seu valor e em alguns meses subir até um novo nível. Ao adquirir moedas virtuais com divisas reais, as pessoas correm o risco de perder todo seu dinheiro 'real'", advertiu Abzalov.

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Segundo ele, o crescimento desequilibrado da capitalização das criptomoedas lembra a tristemente conhecida crise das tulipas que acabou com a hegemonia holandesa do século XVII. Em meio a uma euforia especulativa, os preços dos bolbos de tulipas atingiram níveis exorbitantes, o que levou a uma enorme bolha econômica que derrubou os mercados da Europa e pôs fim ao chamado Século de Ouro dos Países Baixos.

Algo semelhante, mas desta vez a nível global, pode repetir-se com as criptomoedas se as instituições financeiras também se deixarem contagiar pela euforia. A Bolsa de Chicago já permitiu operações para a compra e venda de contratos futuros em bitcoins. Os bancos do Japão e da Coreia do Sul, por sua vez, planejam começar a usar o sistema de pagamento Ripple.

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