Desde o início da década de 1960, a URSS entrou em concorrência com produtores de aviões europeus para a criação da primeira aeronave de passageiros supersônica. Inicialmente, foi tomada a decisão: as fuselagens do primeiro Tu-144 seriam construídas perto de Moscou, na cidade de Zhukovsky, enquanto as asas seriam produzidas na fábrica de aviões de Voronezh, a 466 km de Moscou.
A primeira fuselagem foi montada no início de 1967, mas a produção das asas estava atrasada.
A entrega de asas, que deveria ser realizada por rio em barcaças a partir de Voronezh no fim de 1967, se tornou impossível por causa das temperaturas negativas antecipadas que cobriram de gelo os rios. Como foi descartado o transporte das enormes asas por via ferroviária ou rodoviária, surgiu a ideia de usar o helicóptero Mi-10, capaz de transportar carga em suspensão externa.
Esses helicópteros já eram usados com sucesso na URSS para transportar veículos, casas e outras cargas grandes.
Voo teoricamente impossível
Entretanto, as asas triangulares do Tu-144 eram demasiado grandes. Os cálculos dos cientistas do Instituto Hidro e Aerodinâmico Central mostraram que o transporte das asas através do ar era teoricamente impossível.
Apesar disso, o ministro da Indústria Aeronáutica, Pyotr Dementiev, ordenou ao lendário engenheiro aeroespacial Mikhail Mil para enviar a Voronezh uma tripulação com um Mi-10.
"Se esperarmos mais, os franceses e ingleses decolarão em seu avião supersônico antes nós", disse o ministro a Koloshenko, enviando-o à missão "impossível".
O problema era que as largas asas do Tu-144 fixadas entre as "patas" do helicóptero eram sopradas pelo fluxo de ar do rotor principal do Mi-10, o que complicava a decolagem do helicóptero.
Além disso, Koloshenko demonstrou experimentalmente em seu Mi-10 que a operação para o transporte das asas só era possível em boas condições climáticas.
A perigosa rota Voronezh-Moscou
Como resultado de tudo isso, o helicóptero com as asas voou com sucesso de Voronezh à capital soviética, mas a meio do caminho, quando se aproximava da cidade de Tula e já era impossível retornar devido à falta de combustível, o clima se deteriorou de repente. Formou-se uma névoa e aconteceu o pior que poderia imaginar-se para um helicóptero sobrecarregado: ficou coberto de gelo.
"Começou o pior, o mais perigoso que poderia passar neste voo. O helicóptero com as asas se tornou mais pesado, ficou coberto de gelo e neve. Toda a tripulação ficou em silêncio. Todos entenderam que estávamos em uma situação muito perigosa", lembrou Koloshenko.
A situação agravou-se, porque o aeroporto de Tula não respondia à comunicação, bem como os vários aviões de reconhecimento que deviam acompanhar o helicóptero.
Mais tarde, chegou a informação que, devido a uma forte deterioração do clima, o aeroporto de Tula estava fechado e todas as instalações do rádio estavam apagadas. Os pilotos dos aviões de reconhecimento estavam esperando o helicóptero em um hotel, seguros de que Koloshenko não continuaria o voo durante a tempestade.
Três dias mais tarde, depois de uma pequena reparação do Mi-10, a equipe continuou seu caminho e levou as asas do Tu-144 para o aeródromo de Zhukovsky.
Graças a esta operação, a montagem do primeiro Tu-144 supersônico foi completada a tempo e ele voou pela primeira vez em 31 de dezembro de 1968, dois meses antes do Concorde europeu. O Tu-144 é também o primeiro avião de passageiros a romper a barreira do som.
Koloshenko foi condecorado posteriormente com as ordens de Lenin, da Estrela Vermelha e várias medalhas. Bateu 15 recordes mundiais em helicópteros por capacidade de carga, velocidade e altitude.