Em seu discurso de Ano Novo, o líder norte-coreano apareceu diante das câmeras com uma roupa de estilo ocidental, em lugar de sua típica e tradicional jaqueta. Afirmou querer aliviar as tensões com a Coreia do Sul e estar disposto a enviar uma delegação norte-coreana aos Jogos Olímpicos de Inverno de Pyeongchang 2018.
A notícia foi recebida bem em Seul, e o ministro da Unificação da Coreia do Sul, Cho Myoung-gyon, propôs conversas com Pyongyang ao mais alto nível em 9 de janeiro, na zona desmilitarizada que separa os dois países.
Dividir para conquistar
Alguns analistas sugerem que Kim Jong-un, ao dar este passo na direção ao diálogo, tenta afastar Seul de Washington, aliado dos sul-coreanos.
"Kim Jong-un pode estar tentando abrir uma brecha entre as duas nações, entre a nossa nação e a República da Coreia. Não posso assegurar que isso não ocorrerá", disse à imprensa a porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Heather Nauert, a 2 de janeiro.
"O que Kim está vendo é uma oportunidade rara de colocar os sul-coreanos contra os Estados Unidos", garante Litwak ao jornal The New York Times.
Shin Beomchul, da Academia Diplomática Nacional da Coreia do Sul, aponta à Associated Press que, apesar desta nova retórica mais conciliadora, a estratégia do líder norte-coreano "continua sendo a mesma".
"Está desenvolvendo bombas nucleares, enquanto tenta reduzir a pressão internacional e a aliança militar entre a Coreia do Sul e os Estados Unidos, bem como fazer com que as sanções internacionais sejam canceladas", assegura Beomchul.
"Seria ingênuo esperar que a Coreia do Norte negocie de boa fé […] O padrão de Pyongyang consiste em aumentar as tensões até o limite, deixar cair uma proposta conciliadora, pegar todas e cada uma das concessões e voltar a fazer o mesmo uma e outra vez".
Uma pausa
Evan Medeiros, ex-diretor do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos para a Ásia durante a administração Obama, assegura no The Washington Post que é possível "reduzir temporariamente" as tensões e, como resultado, as relações entre os Estados Unidos e a Coreia do Sul serão seriamente afetadas.
As opiniões, de suspeita e desconfiança, aparentemente não deixam de apresentar Kim Jong-un como um líder ingênuo e empenhado em semear a discórdia. Mas, para o diretor para a não proliferação e política nuclear do Royal United Services Institute, Tom Plant, as últimas declarações do líder norte-coreano são de boa fé, mas também são parte de uma estratégia.
"Eu as veria como algo positivo, no sentido de que [Kim Jong-un] não está dizendo 'vamos hoje para a guerra'. É uma oportunidade para fazer uma pausa. Querem baixar um pouco o tom. A Coreia do Norte não está interessada na guerra e também tenciona ver como Washington reagirá", diz Plant para o portal News.com.