Como erro de cálculo de Washington resultou na vitória de Kim Jong-un

© AFP 2023 / Britta Pedersen / dpaAtivistas a favor da abolição das armas nucleares com máscaras de Donal Trump e Kim Jong-un em frente à embaixada da Coreia do Norte em Berlim, 13 de setembro de 2017
Ativistas a favor da abolição das armas nucleares com máscaras de Donal Trump e Kim Jong-un em frente à embaixada da Coreia do Norte em Berlim, 13 de setembro de 2017 - Sputnik Brasil
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Nos primeiros dias de 2018 ocorreu algo inesperado: as relações entre Seul e Pyongyang entraram em uma nova fase, desta vez não se trata de mais uma ameaça ou aumento da tensão. O Norte e Sul recomeçaram um diálogo oficial.

Gevorg Mirzayan, professor do Departamento de Ciências Políticas da Universidade de Finanças do Governo da Rússia, analisa o assunto em seu artigo para a Sputnik.

Em 9 de janeiro, as partes envolvidas concordaram na realização de negociações intergovernamentais, em Panmunjeom. O objetivo de tal iniciativa são as medidas de melhoramento nas relações bilaterais e condições para Pyongyang poder participar dos Jogos Olímpicos de Inverno em Pyeongchang. Na Coreia do Sul esperam muito que o ar amigável estabelecido nos eventos esportivos possa intensificar o diálogo intercoreano.

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O Sul, desde a eleição de Moon Jae-in (que ainda na campanha eleitoral declarou sua aspiração por um diálogo com o vizinho) não escondia seu interesse em tentar diminuir a tensão a que chegaram os dois países nos últimos anos, a surpresa foi a declaração de Kim Jong-un feita na mensagem de Ano Novo ao povo norte-coreano. Ele, como sempre, afirmou que seu país continuará desenvolvendo programa nuclear, mencionando a existência do botão nuclear. Mas o que surpreendeu a todos, foram as palavras sobre a prontidão para começar a dialogar com o Sul e enviar a delegação para os Jogos Olímpicos. As declarações logo foram consolidadas por ações: em 3 de janeiro Kim Jong-un ordenou restabelecer o canal de comunicação intercoreano.

É obvio que os EUA logo começaram a dizer que a disposição para a paz de Kim é o mérito de Donald Trump. "Alguém realmente acha que as negociações e o diálogo entre a Coreia do Norte e a do Sul ocorreriam neste momento se eu não tivesse sido firme, forte e disposto a usar nosso 'poder' total contra o Norte?", escreveu o líder norte-americano em seu Twitter.

"Por mais estranho que pareça, ele [Trump] tem razão. Mas não no sentido em que ele e os EUA gostariam", aponta Mirzayan.

A retórica agressiva de Trump assustou tanto o Norte quanto o Sul, explicou analista. Os aliados dos EUA compreenderam que a situação atingiu o ponto que nunca antes alcançou. Uma possível guerra, que pode começar por causa dos EUA, ameaça diretamente o povo sul-coreano que será o primeiro a ser afetado pelas armas de Pyongyang.

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Foi por isso que a política de Seul quanto à Coreia do Norte começou a divergir com a de Washington. Apesar das declarações de que a Coreia do Norte é um fantoche nas mãos dos EUA, ultimamente as autoridades sul-coreanas se apresentaram prontas para agir em seus interesses e não contar com Trump, que simplesmente os assustam com sua posição agressiva.

No que diz respeito às questões de segurança durante os Jogos Olímpicos, está bem claro quem era o mais interessado na resolução pacífica, afirma Mirzayan. Depois das negociações entre o presidente Moon Jae-in e Donald Trump, foi deliberado suspender as manobras conjuntas de Seul e Washington para não provocar Kim Jong-un e garantir a segurança das Olimpíadas. É obvio que o iniciador desta decisão foi parte sul-coreana, pois até o último momento tanto Trump, como o chefe do Pentágono James Mattis, afirmaram que não têm necessidades de parar os treinamentos.

Assim, resulta que venceu Kim e não Trump. Ele conseguiu provocar uma cisão entre Seul e Washington e começar as negociações que se baseiam nos assuntos socioeconômicos (a posição oficial dos EUA era negociar apenas a questão de desnuclearização total da Coreia do Norte).

No entanto, os EUA não reconhecem sua derrota neste assunto e não pretende tirar conclusões desta situação, opina analista.

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"Aparentemente, Trump continuará se comportando assim, mesmo vendo a debilidade da sua posição e isolamento dos EUA na questão norte-coreana que está aumentando, ele não pretende mudar a retórica quanto à Coreia do Norte", destacou cientista político.

Muito provavelmente, tudo pode ser explicado pelo motivo de Trump apenas precisar de um inimigo externo, ou por ele não ser capaz de se submeter à existência de um país tão pequeno que atreve ameaçar os EUA. Afinal de contas, Washington pode ter um jeito muito peculiar para sair desta situação e este jeito não pressupõe na mudança da retórica: minar as negociações intercoreanas para que o Sul fique forçado a voltar a considerar as medidas mais agressivas, opinou Mirzayan.

"Não há dúvida de que Pyongyang 'lê' o jogo americano e é pouco provável que sejam sujeitos à provocação. O que quer que digam no Departamento de Estado, Kim Jong-un não é louco e não quer um apocalipse nuclear", resumiu cientista político.

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