Segundo Gevorg Mirzayan, professor de Ciência Política na Universidade de Finanças russa, o fato dos russos acharem que têm inimigos se deve à localização geográfica do país: a Rússia está situada no lugar de confluência das principais regiões do mundo: Europa, Oriente Médio e Ásia. É por isso que o Kremlin não pode se permitir aplicar uma política exterior passiva.
Esta tendência se explica, em primeiro lugar, pelo fato de os cidadãos russos se terem acostumado a conviver com a sensação de perigo. Além disso, os russos têm cada vez mais consciência do poderio do país em caso de confrontação com as nações ocidentais.
"O povo vê que o Kremlin evitou com êxito o isolamento internacional e, apesar das sanções, está aplicando ativamente uma política de sucesso em todas as frentes exteriores", disse ele, acrescentando que, estando mais confiante, a Rússia tem menos tendência para fazer prognósticos apocalípticos, pessimistas.
De acordo com o especialista, se enxergarmos as relações russo-estadunidenses de modo imparcial, os dois países não são inimigos, pois são "duas grandes potências interessadas em preservar a paz".
No entanto, a Rússia se tornou um inimigo para o establishment dos EUA, um inimigo artificial, inventado pelo sistema político norte-americano. Uma parte deste sistema "continua vendo Moscou através do prisma da Guerra Fria (quando a URSS realmente se opunha aos EUA).
"Cheios de problemas internos não resolvidos, [os EUA] começam a apodrecer por dentro, mergulhando em um abismo de conflitos civis. Precisamente por isso, Washington tomou o rumo da ‘contenção global da Rússia', impôs sanções contra Moscou, rodeou o país de regimes hostis e começou a criar ameaças à segurança e integridade territorial da Rússia", afirmou. Segundo Mirzayan, por essa razão o número de cidadãos russos que vê os Estado Unidos como adversário triplicou desde 1999.
"Não é culpa da televisão, mas das autoridades ucranianas, que estão desenvolvendo no país um ‘projeto russófobo'. Fazem isso não por odiar a Rússia, mas por pensar que, sem isso, não é possível criar a nação ucraniana e um Estado soberano", explicou.
O autor do artigo sublinha que "o vírus da russofobia" já infetou várias gerações e será muito difícil de curá-lo no futuro.
Quanto à União Europeia, seu terceiro resultado na lista de adversários da Rússia tem algo a ver com a guerra de sanções. Porém, os russos entendem que a Europa — que foi o iniciador desta guerra, é agora uma vítima incapaz de se libertar da política de Washington.
De acordo com os resultados da pesquisa, apenas 6% dos entrevistados considera a OTAN um adversário. Isso, na opinião de Mirzoyan, deve-se ao fato de a maioria dos respondentes não considerar a OTAN uma organização independente, associando-a com os EUA, que desempenha o papel principal na Aliança.
Por fim, o autor destaca que apenas 5% dos inquiridos acham os islamistas, incluindo o grupo terrorista Daesh (proibido na Rússia), inimigos reais da Rússia. Apesar dos atentados, o povo russo considera que os islamistas são uma ameaça distante e difusa para o país. Para isso contribuiu nomeadamente a operação antiterrorista que a Rússia realizou na Síria.