"Não há nenhum motivo para imaginar que a fumaça produzida pelas queimadas na parte brasileira da Amazônia seja diferente das áreas de outros países amazônicos em que esta agressão ambiental ocorre. Portanto, o risco é generalizado entre todas as populações amazônicas que vivem em áreas de queimadas", disse o interlocutor da Sputnik Brasil.
"O que vimos com esta pesquisa foi que estas partículas emitidas pelas queimadas da Amazônia tinham potencial para produzir dano celular ou danos ao DNA, além de causar mutações permanentes nas células com uma ordem de grandeza igual ou em alguns casos superior àquela que a gente observa nas grandes cidades onde o típico produtor destas partículas não é a queima de florestas mas sim, a queima de combustíveis fósseis", afirmou Saldiva.
"A fumaça da queima das florestas é mutagênica e, muito provavelmente, cancerígena. Aliás, enquanto fazíamos esta pesquisa, observamos que a poluição atmosférica e a exposição aos poluentes do ar, principalmente as substâncias particuladas, têm nível de evidência para câncer similar ao nível de segurança comparado ao tabaco e ao amianto. Isto, por sinal, já é uma constatação da Agência Internacional de Pesquisa em Câncer", alertou o especialista.
A pesquisa mobilizou um grande número de cientistas entre médicos, biólogos, físicos, químicos, meteorologistas e ambientalistas de, pelo menos, quatro grandes instituições: Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Universidade Federal de Rondônia (UFRO) e Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ).
“Os estudos sobre a queima de florestas em regiões remotas do Brasil ainda não tinham sido realizados de modo a criar competências locais para que se pudessem fazer a gestão dos riscos e dos processos que ocorrem lá mesmo. Foi assim que nasceu esta pesquisa, focando em falar sobre Amazônia com pesquisadores da própria Amazônia", explicou.
A esperança do patologista Paulo Saldiva é de que os resultados deste trabalho conjunto de vários especialistas gerem efeitos positivos para a população.
"Esperamos que os resultados desta pesquisa ajudem os responsáveis pelos órgãos competentes a formular políticas públicas aptas a fomentar medidas protetoras da saúde humana. O indivíduo, por si só, não tem como se proteger; ele depende de políticas públicas para assegurar esta proteção", concluiu o médico.