A última promoção
É difícil imaginar o que sentia o favorito de Hitler, um dos autores da operação Barbarossa (nome de código para a operação de invasão à União Soviética). O velho porão parecia-lhe uma sepultura. Pó e pedras caíam do teto após cada nova explosão que ocorria por perto. As notícias raras comunicavam que as tropas do general sofriam cada dia mais perdas. A última contribuição foi feita pelo próprio Hitler, quando ele promoveu o general a marechal de campo (generalfeldmarschall). A promoção foi acompanhada com as seguintes palavras: "Ainda nenhum marechal de campo alemão foi capturado", implicando que seria melhor se Paulus decidisse pôr fim a sua vida. Este evento quebrou completamente a vontade do oficial, pela manhã do dia seguinte ele ordenou a seus soldados para se comunicarem com as tropas soviéticas para negociar a capitulação.
Em velho uniforme
O tenente soviético Fyodor Ilyichenko, que foi o primeiro a ver o marechal, não podia aceitar a capitulação de um militar de posto superior. Por isso, os lados combinaram sobre o cessar-fogo, após isso o tenente soviético informou o comandante de brigada sobre a situação. No fim das contas, foi o chefe de Estado-Maior do 64º Exército, Ivan Laskin, quem foi escolhido para falar com Paulus. Quando Laskin e seus assistentes chegaram ao local, primeiro falaram com o general Rosske e o chefe do Estado-Maior Schmidt, em quem o marechal delegou o poder de realizar negociações. Após Rosske ter ordenado a seus soldados para parar de resistir, depor as armas e se renderem, o próprio Paulus saiu para continuar as negociações.
Posteriormente, Ivan Laskin recordava que o generalfeldmarschall de 53 anos era mais alto que a média, era magro e aprumado, mas tinha um rosto pálido e cansado.
"Paulus se aproximou de mim, levantou seu braço direito e falou em russo, com sotaque muito forte: ‘O marechal de campo do exército alemão Paulus se entrega ao Exército Vermelho.'"
Em seguida, Paulus achou necessário informar que ele recebeu o posto de generalfeldmarschall somente em 30 de janeiro, por isso ainda usava o uniforme de coronel-general, acrescentando que agora, provavelmente, já não precisaria de um uniforme novo.
No mesmo dia, Paulus foi levado até Beketovka, um povoado perto de Stalingrado, onde o oficial alemão se encontrou com o comandante da frente, coronel-general Konstantin Rokossovsky. O militar soviético propôs a Paulus ordenar aos restos do 6º exército que se rendessem para acabar com o derramamento de sangue desnecessário. O oficial alemão negou, já que, conforme a uma nova diretiva, seus soldados passaram a estar subordinados diretamente a Hitler. Assim, em 2 de fevereiro de 1943, o exército soviético eliminou os últimos bastiões dos alemães na cidade russa e a batalha por Stalingrado terminou.
Apelo aos alemães
Em 1944, ele assinou uma carta apelando a todos os prisioneiros de guerra alemães e ao povo alemão, no qual se lê: "Considero como meu dever afirmar que a Alemanha deve afastar Adolf Hitler e estabelecer uma nova direção no país que acabe com a guerra e crie condições para nosso povo poder continuar a existir e reestabelecer relações pacíficas e amistosas com nosso adversário atual."
Posteriormente, no cativeiro, Paulus se tornou um dos maiores propagandistas na luta contra nazismo. Até agora, os historiadores polemizam se ele era sincero em seu "arrependimento" ou o oficial cuidadoso tentava se acomodar melhor às condições de cativeiro. Contudo, sua atividade propagandista ajudou a salvar milhares de vidas, só que isso não o livra e a seus soldados da culpa perante os povos da União Soviética.