Ademais, está pouco estudado o período entre 3 e 2 milhões de anos atrás, quando o gênero Homo se separou dos australopitecos. Porém, a época mais interessante, quando o ser humano se tornou gradualmente racional, entre 200 e 50 mil anos atrás, também está pouco analisada.
"Gostaríamos de dispor de uma quantidade maior de crânios que tenham ficado daquela época", disse o especialista, adiantando que as etapas-chave da evolução humana foram detectadas pelos achados na África, sendo o Quênia, a Tanzânia, a Etiópia e a África do Sul os principais países dessas escavações.
"Entretanto, a África Ocidental e Central são ainda manchas brancas, embora lá existem as sedimentações necessárias. Mas para encontrar os restos dos nossos antepassados são precisos tempo e perseverança", explicou.
O antropólogo contou que há vários anos os especialistas descobriram ainda uma nova espécie humana bem primitiva — homo naledi — que se pensava que viveram cerca de 2-1,5 milhões de anos atrás. Mas a datação de esqueletos completos desenterrados em 2015 revelou que eles têm 300 mil anos.
Mas por que é que só o homo sapiens sobreviveu na Terra? Existem muitas teorias sobre o tema. Há quem acredite que a causa reside na mudança do clima, porém, assinalou Drobyshevsky, o clima já tinha mudado várias vezes nos períodos anteriores e não levou a uma extinção tão maciça de espécies humanas.
"Parcialmente, o conceito de catástrofe poderia dar uma explicação para uma ruptura tão brusca. De acordo com essa teoria, há cerca de 73 mil anos explodiu o vulcão Toba, em Sumatra, o que matou todos os que habitavam na parte sul da Eurásia", disse.
Existe uma versão "exótica" que os humanos modernos teriam trazido doenças tropicais da África ao migrarem, o que acabou por matar os hominídeos de Denisova e homens de Neandertal.
"Mais uma hipótese diz que os homens de Neandertal tinham um nível elevado de hormônios masculinos. […] Isso é verdade, as mulheres de Neandertal tinham dificuldade em manter a gravidez, dar à luz e amamentar. Enquanto esta espécie habitava na Europa sem concorrentes, estando no topo da pirâmide ecológica, não precisava de muitos filhos. […] Mas quando vieram os sapiens, que tinham muitos filhos, eles superaram seus primos por serem mais numerosos", contou o especialista, frisando que há muitas teorias, mas dado que foi um processo complexo, provavelmente não pode ser explicado por uma causa só.
Contudo, o antropólogo duvida que hoje possam ainda existir algumas espécies de humanos ainda não descobertas, pois para sua sobrevivência é precisa "alguma numerosidade", enquanto os cientistas já vasculharam quase todo o mundo, inclusive suas partes de mais difícil acesso.
"Os entusiastas esperam encontrar um ‘ieti', eu mantenho contato com eles. Caso achem algo, serei o primeiro a saber", sublinhou.
"No planeta já não há barreiras para a deslocação dos humanos, até as tribos mais remotas das Ilhas Andamã ou da Amazônia têm algum contato, pelo menos indireto, com a civilização. Nada impede a mistura genética e cultural dos povos. Para que surja uma nova espécie, são precisos um grande território e uma população numerosa, mas não há nenhum grupo populacional que desfrute de tais condições", observou.
Ao resumir, Drobyshevsky disse que isso pode acontecer só no caso de uma catástrofe global ou de uma expansão espacial.