Para especialista, pressão do Grupo de Lima sobre Venezuela ficará restrita à diplomacia

© AP Photo / Ricardo ZunigaGrupo de Lima considera que eleições na Venezuela não terão legitimidade
Grupo de Lima considera que eleições na Venezuela não terão legitimidade - Sputnik Brasil
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A pressão crescente que o Grupo de Lima vem fazendo sobre o regime do presidente Nicolás Maduro com relação às eleições marcadas para 22 de abril deve ficar restrita ao campo diplomático e não deve representar um aumento da ingerência externa que ameace a soberania do país.

A opinião é de Regiane Bressen, professora de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), para quem, hoje, apesar do aumento da pressão da comunidade internacional, não se vislumbra uma intervenção externa no país. Em entrevista à Sputnik Brasil, a especialista admite que a nação caribenha vive um isolamento internacional crescente, fruto da grave crise econômica e social dos últimos anos.

"Não acredito que vá haver uma intervenção mais forte ou que ultrapasse a soberania venezuelana. O que pode acontecer é o país ser suspenso de organizações internacionais, como no Mercosul, e ganhar inimizades no contexto regional, o que afeta o comércio, embora a gente não possa esquecer que o maior parceiro internacional da Venezuela ainda são os Estados Unidos" observa Regiane.

O Grupo de Lima é um bloco formado por 14 países da região e que reúne Argentina, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Guatemala, Guiana, Honduras, México, Panamá, Paraguai, Peru e Santa Lúcia. O bloco vem aumentando suas críticas em relação ao governo Maduro e tenta exercer uma pressão maior do que a feita pela Organização dos Estados Americanos (OEA), onde muitos países, em especial os do Caribe, têm se oposto à adoção de medidas mais duras contra a Venezuela.

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Com relação ao fato de a oposição não participar do pleito, a professora da UFSP lembra que, no ano passado, a coalização contra Maduro, a Mesa da Unidade Democrática (MUD), foi frontalmente contra a tentativa de se convocar uma constituinte para rever a Carta Magna do país. De lá para cá, segundo ela, os oposicionistas perderam força, uma vez que o movimento se fragmentou em diversos setores, alguns mais radicais — defendendo até a volta da tentativa de golpe em 2002 que tentava depor o então presidente Hugo Chávez — até alas mais moderadas. Ainda assim, Regiane diz que graças a essa oposição tem crescido a condenação internacional ao regime de Maduro.

"A Venezuela ainda exerce alguma influência sobre países caribenhos e em nossa região, como Bolívia e Equador. Ao excluir Cuba, a OEA tem um impacto grande nessa dinâmica porque um dos maiores parceiros de Cuba é a própria Venezuela. Na Cúpula de 2015 da OEA, na primeira vez em que Cuba foi convocada para o encontro, Maduro esteve presente e a todo o momento ficou criticando os EUA e a própria organização", diz Regiane, que esteve presente na reunião no Panamá. Segundo ela, no encontro, os parlamentares venezuelanos já sublinhavam a importância de que as discussões deixassem de ser feitas no âmbito da OEA e passassem ao da União das Nações Sul-Americanas (Unasul).

Para muitos analistas, a Unasul, que funcionava como um contraponto à OEA, perdeu muito de sua força com a substituição de governos mais de esquerda por outros de formação neoliberal na América do Sul, caso recentemente de Chile, Peru, Argentina e mesmo no Brasil, após o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Na visão de Regiane, apesar de toda a pressão, o governo de Maduro continua resistindo graças ao apoio das Forças Armadas, o que permite ao presidente ir tentando algumas manobras, buscando apoio popular, embora também perca no plano interno devido à crise que o país vem enfrentando.

"Estive duas vezes na Venezuela. Em 2015, a situação já era daquelas filas. Enquanto turista, nem um dia eu vi leite no hotel", afirma. 

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