A polêmica não para aí. O mesmo artigo defende que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, também recebam a honraria neste ano. O que soa absurdo em um primeiro momento, porém, tem relação direta com o passado.
Autor do texto, Oh Young-jin é editor no jornal sul-coreano Korea Times e não se esqueceu o que Kim, Trump e Moon representam. O jornalista relembra que o líder norte-coreano "demonstrou seu desdém pelos direitos humanos com gulags e assassinatos em massa".
Como premiar um líder norte-coreano que teria ordenado "passar um produto químico mortal na face do seu irmão mais velho que estava no exílio em um agitado aeroporto internacional"? Alguém cujo pai, Kim Jong-il, "planejou vários atos terroristas, incluindo explodir um avião de passageiros sul-coreano"?
E o que falar de Trump, um "ditador eleito" que "trata as mulheres como brinquedos sexuais” e que obteve “ajuda de um Estado inimigo, a Rússia, na eleição"? Ou Moon que, na sua tentativa de "conciliar com o Norte levanta objeções da nação que viu milhões mortos, sua infra-estrutura destruída durante o conflito há 65 anos"?
Mesmo diante de tais falhas morais, o texto defende o prêmio para o trio, e faz menção ao passado. Em 2000, o presidente sul-coreano Kim Dae-jung recebeu o Nobel da Paz pela sua contribuição à primeira reunião de cúpula com o Kim Jong-il. Porém, o líder norte-coreano não foi reconhecido e, por isso, "sentiu-se traído pelo líder do Sul".
"A política de Kim Dae-jung vacilou depois que o presidente dos EUA, George W. Bush, se tornou um linha dura, mas continua se discutindo o que teria acontecido se Kim [Jong-il] tivesse sido reconhecido pelo Nobel. O ditador do Norte poderia ter saído do seu casulo e alcançado o mundo", defendeu o artigo.
O jornal sugere que, talvez, a Coreia do Norte poderia ter se aberto à comunidade internacional, seus programas nucleares não teriam se tornado uma ameaça, e não se pode descartar que um colapso de Pyongyang tivesse já levado à reunificação da península.
"Nossa consciência coletiva é o maior obstáculo para premiar os três líderes do prêmio Nobel da Paz. Uma maneira de aliviar nosso coração dolorido é pensar no prêmio como um incentivo para eles mantenham suas palavras de paz. Afinal, a lista dos vencedores do prêmio Nobel inclui muitos vilões e a razão pela qual eles receberam o prêmio nem sempre foi porque eles eram agentes da paz, mas para o propósito maior de vinculá-los a um melhor comportamento. Cada prêmio carrega esse elemento intrínseco de retificar o mau comportamento", argumentou o artigo.
A publicação ponderou que uma iniciativa de premiar o trio poderia "alcançar a paz que pode poupar ao mundo uma guerra sangrenta, salvar a vida das pessoas, dar aos coreanos a chance de viver pela primeira vez em um século sem o medo da guerra ou perseguição e aliviar o mundo da ameaça do conflito nuclear".
Embora nenhuma premiação seja garantia de nada, o jornal sul-coreano afirmou que valeria a tentativa. Por um bem maior.
"Pode-se dizer que se um Prêmio Nobel pudesse manter a paz mundial, o mundo não estaria em perigo em primeiro lugar. Será mesmo? Certamente houve muitas tentativas próximas no cenário global que foram impedidas por um pequeno esforço de fazer diferença. Se o Prêmio Nobel da Paz fizer esse pequeno esforço, por que não tentar — com bastante antecedência?", finalizou.
A próxima cúpula entre autoridades das duas Coreias acontece no fim de abril. Um mês depois, possivelmente, está previsto o aguardado encontro entre Kim e Trump, em local e data a serem definidos.