O vice-premiê chinês, Liu He, em uma ligação telefônica neste sábado (24) com o secretário do Tesouro dos EUA, Steven Mnuchin, afirmou que a China está pronta para defender seus interesses nacionais. O telefonema foi o primeiro contato de alto nível após o presidente dos EUA, Donald Trump, ter anunciado os planos de introduzir tarifas alfandegárias adicionais sobre a produção chinesa.
Em entrevista à Sputnik China, o analista Aleksandr Salitsky, professor do Instituto de Economia Mundial e Relações Internacionais de Moscou, assinalou que Pequim está mudando sua estratégia e passando à contraofensiva.
"Quase todos os observadores apontam que a empresa Boeing pode virar a vítima principal. Esta possui planos bem amplos quanto ao mercado chinês. Nos próximos anos, a Boeing planeja fornecer aviões no valor equivalente a quase US$ 1 trilhão (R$ 3,31 trilhões). Os chineses podem passar a importar Airbus, sendo esta a grande concorrente da Boeing", assinalou.
Salitsky qualificou como "propaganda" as declarações de Steven Mnuchin que os EUA não têm medo de uma possível guerra comercial com a China.
"Caso isso correspondesse à verdade, os norte-americanos não escreveriam uma carta propondo à China aumentar as importações de carros e semicondutores norte-americanos, bem como alargar o acesso das empresas dos EUA ao setor financeiro da China", assinalou.
No momento, os EUA estão vivendo uma situação econômica relativamente boa, contudo, uma guerra comercial com a China pode afetar fortemente os norte-americanos, bem como toda a economia mundial, destacou o analista.
"Nocautear toda a economia mundial é um passo irresponsável. Trará prejuízos a todos", acredita Salitsky.
Além disso, observadores relacionam as últimas quedas no mercado financeiro dos EUA à ameaça de guerra comercial que pode impedir o crescimento da economia norte-americana. Para mais, vários especialistas alegam que a guerra comercial com a China pode impactar de forma negativa nas perspectivas de reeleição do presidente dos EUA, Donald Trump, em 2020. É que 425 dos 535 distritos estadunidenses onde os colégios eleitorais escolhem o presidente dos Estados Unidos estão fortemente envolvidos na cooperação econômica com a China.
Quanto a uma provável saída da situação, o especialista Li Kai, professor da Universidade de Finanças de Shanxi, acredita que a melhor das opções seria se sentarem à mesa das negociações.
"Em resposta às últimas ações dos EUA, a China dispõe de medidas retaliatórias, porém, elas têm sido bem ‘suaves’ no momento […] Quando atacada pelos EUA, a China não ficará atrás, seus ataques serão idênticos aos norte-americanos. A China age em conformidade com a situação. É uma ideia seguida pela equipe de [líder chinês] Xi Jinping", explicou o analista.
Contudo, Li Kai frisou que a resolução dos problemas deve continuar sendo a meta principal de ambos os lados.