Moro considerou que rever o entendimento sobre o assunto seria um "desastre" e que o tema vai além do caso de Lula, podendo vir a beneficiar traficantes e pedófilos, por exemplo.
"Foi estabelecido um precedente importante, em 2016, pelo saudoso ministro Teori Zavascki. Se for esperar o último julgamento seria um desastre muito grande, porque levaria à impunidade, especialmente dos poderosos. É um assunto que transcende o ex-presidente Lula", disse Moro.
"Têm lá peculatos milionários, dinheiro desviado da saúde, da educação, e que faz falta para a população. Tem traficante, tem pedófilo, doleiros, e isso estou falando dentro de um universo pequeno, de onde eu trabalho", continuou o magistrado, responsável pela condenação de Lula no caso do tríplex do Guarujá (SP) – a pena estipulada por ele (9 anos e 6 meses) foi aumentada para 12 anos e 1 mês pelo Tribunal Regional da 4ª Região).
Em favor do país não "dar um passo atrás", Moro ressaltou a conduta dos ministros do STF e se negou a acreditar na tese de uma possível benevolência da Corte com Lula. Ele mencionou especialmente a ministra Rosa Weber, tida por analistas como peça-chave para o julgamento do próximo dia 4.
"Tenho apreço especial pela ministra Rosa Weber, com quem trabalhei. Pude observar a seriedade da ministra, a qualidade técnica da ministra", comentou Moro.
Auxílio-moradia x aumento salarial
O juiz federal voltou a se posicionar a favor do recebimento de auxílio-moradia por juízes no Brasil. Para Moro, o pagamento de R$ 4,3 mil em benefício se justifica, sobretudo pela ausência de reajuste salarial dos magistrados há pelo menos três anos.
"Existe esse benefício, que é questionável e existe a previsão constitucional de que os subsídios do magistrado deveriam ser reajustados anualmente, o que não ocorre há três anos", opinou.
Moro foi mais contido ao comentar as eleições gerais de outubro. "Vejo bons candidatos, outros nem tanto. E outros que merecem juízo maior de censura", resumiu.
Sobrou tempo ainda para o juiz comentar a série O Mecanismo, de José Padilha, que estreou na semana passada e gerou revolta em setores da esquerda pela forma que a Lava Jato é mostrada. Segundo ele, tanto o seriado quanto o filme Polícia Federal — A lei é para todos foram dramáticos em excesso, e não se destacam pela veracidade, ainda que tenham qualidades.
"Não retratam uma realidade como aconteceu, mas existem pontos comuns. Essas produções culturais têm um valor e, por esses fatos estarem acontecendo agora, é difícil ser fiel. Mas é importante para informar. Ambos revelam que a corrupção é um problema. Se servir para chamar atenção nisso, já é um grande papel", concluiu.