Não há como definir o ponto exato da queda da nave. A ESA estima que seja em qualquer lugar do planeta entre as latitudes 43º norte e 43º sul.
"Do ponto de vista tecnológico e científico, este evento constitui uma oportunidade de monitorar e prever a reentrada de objetos produzidos pelo homem na atmosfera, possibilitando afinar a tecnologia e os algoritmos existentes para obter resultados mais assertivos em eventos deste gênero", afirma o Comandante João Neves, do Ministério da Defesa de Portugal, em conversa com a Sputnik Brasil.
O diretor do Observatório Astronômico de Lisboa, Professor Rui Agostinho, explica à Sputnik Brasil que o trabalho da base da ilha é decisivo no caso de algo dar errado durante um lançamento. A antena da base recebe as informações diretamente do foguete. Se algum problema é detectado, ela permite à sala de controle decidir se vai ou não explodir o equipamento ainda no ar, para que ele se fragmente e, ao cair, não represente um perigo.
"Isto é diferente daquilo que está a acontecer, porque a antena não tem a capacidade de estudar a trajetória que a nave chinesa tem. Para isso é preciso um tipo de rastreio que tem que acompanhar, que não é apenas rádio, pode ser ótico também, para saber onde o objeto anda. Portanto, o que está na ilha de Santa Maria está adaptado àquilo que são os lançamentos feitos pela Agência Espacial Europeia", explica o professor.
De acordo com o Comandante João Neves, participar do acompanhamento de eventos como a saga da nave chinesa é o próximo passo.
"Estamos a trabalhar no sentido de constituir esta capacidade, que se prevê estar operacional dentro de alguns meses e, assim, fazer parte de um esforço internacional para monitorar e prever eventos com origem nas órbitas próximas da Terra", afirma o militar.
Existe o risco?
Tiangong-1 pode não se desintegrar completamente quando chegar à Terra, processo que ocorre comumente com satélites de menor porte.
"Um satélite de telecomunicação só tem que ter resistência mecânica suficiente para a altura do lançamento. Pode ser grande, mas a quantidade de parafusos e sistemas mecanicamente muito robustos não é assim tão grande. Em consequência, quando entra pela atmosfera, o embate, o aquecimento de milhares de graus a que estão sujeitos, consegue desfazer este satélite todo. O resultado é que ele se fragmenta e não há perigo algum daquilo vir a cair e causar danos", explica Rui Agostinho.
"Uma estação espacial é diferente. É feita para ter pessoas dentro e elas têm que ser protegidas enquanto estão no espaço. Isto leva a uma construção muito mais rígida, capaz de resistir. Obviamente a estação irá fragmentar-se em vários pedaços, mas há partes mais resistentes que não sofrerão com o aquecimento e o impacto da reentrada na atmosfera", diz o professor.
De acordo com o Comandante João Neves, não há medidas preventivas completamente formuladas para evitar possíveis danos causados pelos destroços "dada a rara natureza e a aleatoriedade destes eventos, mas os sistemas de proteção civil têm implementados procedimentos que pretendem mitigar os efeitos que daí advenham".
Constrangimento internacional
A China se aventurou no espaço com a Tiangong-1 em setembro de 2011, mas a nave apresentou dificuldades em manter a altitude logo depois do lançamento. A Administração Espacial Nacional da China conseguiu contornar os problemas e chegou a planejar uma reentrada controlada, para que o equipamento caísse sobre uma área não populada no sul do oceano Pacífico.
No entanto, em março de 2016 a estação espacial parou de funcionar. Tiangong-1 está à deriva desde então.
"Quando a trajetória é controlada, com o passar dos meses vai se sabendo exatamente o local da queda e o os chineses não foram capazes de fazer isso", diz Rui Agostinho. O Professor explica que qualquer programa espacial está sujeito a imprevistos, "mas ninguém estava à espera que uma agência deixasse tudo assim ao deus dará".