O Partido Conservador e seus rivais esquerdistas expressaram indignação com a escolha das palavras do embaixador israelense em sua disputa com críticos do recente incidente no Oriente Médio, onde soldados israelenses abriram fogo contra manifestantes na Faixa de Gaza, deixando 17 mortos e mais de 1.400 feridos.
Depois da repressão israelense, a página do Facebook da embaixada israelense foi inundada com críticas norueguesas, às quais Schutz não hesitou em usar uma linguagem rude como resposta. Em ríspido debate com Ola Ingvald Hansen, do Comitê Palestino da Noruega, que recordou que a Noruega tinha "seus próprios combatentes da liberdade" durante a 2ª Guerra Mundial, Schutz acusou Hansen de "mentiras e puro antissemitismo". Isso, o embaixador argumentou, era de se esperar de "um descendente de Quisling". Vidkun Quisling, o líder do estado ‘fantoche’ durante a ocupação nazista da Noruega, mais tarde se tornou sinônimo de "traidor" na Escandinávia.
Reagindo a comentários adicionais de noruegueses, Schutz disse que o país nórdico merece ser lembrado sobre as "páginas escuras de sua recente história", se desculpando "por não atender aos critérios para ser um bom diplomata".
A menção a Quisling, no entanto, provocou fortes reações nos círculos políticos noruegueses.
"O comentário do embaixador israelense é equivocado e cruza a linha do aceitável no âmbito profissional de opinião", disse Michael Tetzschner, líder do grupo de assuntos externos do Partido Conservador e do Comitê Parlamentar de Defesa, ao jornal norueguês Verdens Gang. Tetzschner também enfatizou que Quisling e seus seguidores eram "forasteiros políticos antes, durante e depois da guerra", sugerindo que ele dificilmente exemplificou a nação norueguesa.
A parlamentar socialista de esquerda, Karin Andersen, concordou que o comentário sobre Quisling foi "inaceitável".
"É assim que o embaixador israelense responde, quando a política de atirar em jovens desarmados é criticada. Qualquer um que discorde de sua política é rotulado como terrorista. Não é democrático e é inaceitável", escreveu Andersen em seu Twitter.
Os Vermelhos, que fizeram sua estreia parlamentar durante a última eleição, não mediram palavras nem quando pediram a expulsão do diplomata israelense.
"Queremos expulsar o diplomata israelense em resposta ao massacre de civis palestinos", tuitaram os Vermelhos.
Vi vil utvise den israelske ambassadøren, i protest mot Israels drap på sivile palestinere.
— Rødt (@Raudt) 3 de abril de 2018
Les mer: https://t.co/D8dNJXZ8WU pic.twitter.com/UUZIB9V3F9
Após a briga, Schutz alegou que foi citado erroneamente pelo jornal norueguês Dagbladet, ressaltando que ele nunca disse que todos os noruegueses eram descendentes de Quisling, como foi declarado pelo jornal. No entanto, ele acrescentou que foi seguro dizer que mais noruegueses colaboraram com os nazistas durante a 2ª Guerra Mundial do que trabalharam para salvar os judeus.
Vidkun Quisling foi o chefe nominal do estado norueguês durante a ocupação nazista. Durante o expurgo legal da Noruega depois da 2ª Guerra Mundial, ele foi considerado culpado de traição e condenado à execução por um pelotão de fuzilamento. A palavra "quisling" é, portanto, vista como sinônimo de "traidor" em norueguês e em várias outras línguas, refletindo a imagem ruim que seu legado é visto.
Hitler is meeting Vidkun Quisling, head of the (tiny) Norwegian fascist party, Nasjonal Samling. He hopes for pro-Nazi coup in Norway, or a British invasion & German "counter-invasion". pic.twitter.com/Ym8GiPDvH4
— WW2 Tweets from 1940 (@RealTimeWWII) 14 de dezembro de 2017
Hitler se encontra com Vidkun Quisling, chefe do (pequeno) grupo fascista norueguês, Nasjonal Samling. Ele espera um golpe pró-nazista na Noruega, ou uma invasão britânica e "contra invasão" alemã
"Jogar a biografia de Quisling sobre os noruegueses é uma maneira de perder a simpatia por qualquer causa, por mais simples que seja. Na verdade, acho que é semelhante a um 'suicídio argumentativo', se é que existe tal coisa. Por favor, entenda que comparar os noruegueses a Quisling é simplesmente o maior passo em falso possível neste país", disse o usuário Jo Kleivan na página do Facebook de Schutz.
Os tiroteios na Faixa de Gaza provocaram críticas da UE e da ONU, enquanto Israel rejeitou pedidos internacionais para uma investigação sobre o incidente.