Isabel García, cofundadora da Coalizão de Direitos Humanos, organização com sede nos EUA que promove direitos humanos e civis de todos os migrantes, disse à Sputnik Internacional que a mobilização da Guarda Nacional demonstra extrema ignorância e ódio por imigrantes.
O Posse Comitatus Act, contrato assinado pelo presidente Rutherford Hayes em 1878, limita o papel da Guarda Nacional e tropas federais de usar as forças armadas nos EUA. Na época, as tropas estavam supervisionando as eleições, rastreando suspeitos criminosos e buscando a produção ilegal de uísque em estados anteriormente rebeldes após o fim da Guerra Civil Americana em 1865.
A lei foi emendada em 1981 e autorizou que os militares realizassem a vigilância, quando se tratava da fronteira com o México. No entanto, a lei determina que os militares não podem exercer função de polícia, ou seja, prender ou usar força.
"Há países que permitem exércitos em suas fronteiras. Nunca tivemos essa fronteira militarizada porque supostamente temos uma lei que nos protege. As forças armadas são treinadas para matar. Não podemos ter as forças armadas na fronteira. É perigoso. O presidente está fazendo de tudo para estimular a ignorância, o ódio e a retórica anti-imigrante", explicou.
Kirstjen Nielsen, secretária de Segurança Interna dos Estados Unidos, anunciou nesta quarta-feira (4) que "nossas leis atuais de segurança e imigração prejudicam a população norte-americana".
Ela ainda acrescentou que o sistema é recompensado pelo comportamento inadequado, não pune os infratores da lei e prejudica interesses econômicos da nação norte-americana.
Nielsen disse que as tropas da Guarda Nacional serão enviadas em curto prazo, no entanto se recusou a responder o número de contingentes que será enviado para a fronteira.
Contrariando as alegações de Trump, a imigração ilegal diminuiu depois da recessão de 2008. Além disso, a administração de seu antecessor, Barack Obama, deportou mais de 2 milhões de migrantes sem documentos durante oito anos. Apesar da diminuição da imigração ilegal em comparação com os últimos anos, os números da Alfândega e Proteção de Fronteiras revelam que houve um leve aumento na imigração ilegal nos últimos meses, que é o que pode ter motivado a decisão de Trump de implantar a Guarda Nacional.
"O fato é que os EUA se beneficiaram da força do trabalho imigrante do México — essa é a face do imigrante neste país. E os mexicanos não fizeram nada além de construir este país. Os EUA deveriam nos agradecer em vez de nos expulsar […] Achei um absurdo que Trump esteja tuitando sobre uma chamada caravana de migrantes", disse García.
"É melhor que a grande caravana de pessoas de Honduras, que agora cruza o México e se dirige a nossa fronteira de 'Leis Fracas', seja detida antes de chegar", escreveu Trump em seu Twitter na última terça-feira (3).
"A galinha de ovos de ouro do NAFTA [Tratado Norte-Americano de Livre Comércio] está em jogo. O Congresso DEVE AGIR AGORA!", acrescentou Trump ameaçando cortar a ajuda externa a Honduras, caso migrantes atravessem a fronteira para buscar asilo nos EUA.
The big Caravan of People from Honduras, now coming across Mexico and heading to our “Weak Laws” Border, had better be stopped before it gets there. Cash cow NAFTA is in play, as is foreign aid to Honduras and the countries that allow this to happen. Congress MUST ACT NOW!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) 3 de abril de 2018
O governo dos EUA, em dezembro do ano passado, reconheceu Juan Orlando Hernández como presidente de Honduras, apesar de protestos furiosos da população alegando contagem fraudulenta de votos.
"O povo norte-americano deve despertar e ver o que fizeram em Honduras, um presidente ilegal está no poder. Trump reage como se estivesse surpreso com as pessoas que se dirigem para os EUA depois que seus países foram devastados pelas políticas dos EUA", disse García à Sputnik Internacional.
García afirma que os imigrantes estão sendo usados pelo governo como desculpa para violar direitos humanos, violações que estão se estendendo às pessoas como um todo.
"É um movimento perigoso", referindo-se ao deslocamento dos militares para a fronteira.
"Isso tem grandes implicações para imigrantes e para toda a sociedade. O próximo passo é militarização na rua", concluiu.