Xadrez do Oriente Médio: reconhecer Israel como Estado faz parte do projeto contra Irã?

© AFP 2023 / STR / Vahidreza AlaiA bandeira do Irã em frente do foguete Safir Omid antes do seu lançamento (foto de arquivo)
A bandeira do Irã em frente do foguete Safir Omid antes do seu lançamento (foto de arquivo) - Sputnik Brasil
Nos siga no
Autoridades da Arábia Saudita reconheceram pela primeira vez o direito de Israel de existir no território da "pátria histórica" dos judeus. Mohammad bin Salman, durante visita aos EUA, expressou apoio aos esforços israelenses e foi além: qualificou o líder supremo iraniano, Ali Khamenei, como "Hitler" do Oriente Médio.

A Sputnik Persa entrevistou o cientista político e diplomata iraniano, Seyyed Hadi Afghahi, para entender o porquê das recentes declarações do príncipe herdeiro saudita, bem como para se situar no impacto do passo empreendido por Riad sobre a situação na região.

Mohammad bin Salman Al Saud, príncipe herdeiro da Arábia Saudita - Sputnik Brasil
Líder do Irã é pior do que Hitler, diz príncipe da Arábia Saudita
"Sabe-se que a Arábia Saudita e o Irã são adversários. Sauditas acreditam que o Irã interfere nos assuntos internos da região e visa expandir sua influência. Enquanto isso, as ações da Arábia Saudita violam regras internacionais e não trazem nada de bom para a região, como, por exemplo, o apoio aos grupos terroristas na Síria e no Iraque. Contudo, seria bom que todas as tentativas da Arábia Saudita de acusar o Irã de apoiar terroristas acabassem falhando", comentou o analista.

O especialista assinalou que as vitórias da aliança, formada pelo Irã, Síria e Hezbollah, chamada Frente de Resistência, e as vitórias da Rússia na Síria preocuparam a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Egito, EUA e OTAN.

"Além disso, a derrota dos sauditas assustou Israel, já que Israel prestava apoio aos terroristas na luta contra a Síria, contribuindo para a desestabilização da situação na região […] É natural que a Arábia Saudita e Israel sintam que tanto suas posições na região, como seus interesses estejam ameaçados", explicou Seyyed Afghahi.

Russian President Vladimir Putin, Turkish President Recep Tayyip Erdogan and Iranian President Hassan Rouhani, right to left, pose for a photo before a meeting in Ankara - Sputnik Brasil
Presidente do Irã: EUA usam Daesh e Frente al-Nusra para controlar a região
Segundo ele, ao longo de 56 anos, a Arábia Saudita manteve contatos clandestinos com Israel sem ao menos querer torná-los públicos, diferentemente de Israel.

"Divulgar contatos beneficiaria Israel: ao afirmar que a Arábia Saudita não tem problemas com Israel, o país, em que se encontram centros sagrados para muçulmanos por todo o mundo, Tel Aviv encorajaria outros países muçulmanos a passar a estabelecer relações diplomáticas com ela. Nesta situação, a Arábia Saudita passou a ocupar uma postura aberta: saiu da clandestinidade […] e a nível oficial reconheceu o direito de Israel de existir", destacou.

O analista iraniano assinalou também que, em breve, devido ao medo das monarquias do golfo Pérsico de perderem suas posições na região, a Arábia Saudita e Israel começarão a reforçar suas relações diplomáticas.

"Está claro que o motivo de aproximação entre a Arábia Saudita e Israel é a ameaça política e estratégica que surgiu para a Arábia Saudita na região. Atrás destes dois países estão os EUA, cuja presença afeta a região de forma negativa. A declaração do presidente Donald Trump sobre a breve retirada de suas forças da Síria foi bem surpreendente e inesperada."

Caça F-15 da Força Aérea de Israel - Sputnik Brasil
Ataque israelense a reator nuclear sírio em 2007 seria advertência ao Irã em 2018?
Falando sobre provável estabelecimento das relações diplomáticas entre Tel Aviv e Riad, o especialista revelou alguns detalhes do projeto anti-iraniano, chamado "Acordo do Século":

"Acredito que, daqui a pouco, a Arábia Saudita vá declarar oficialmente suas relações com Israel. Contudo, Riad vai além: o reconhecimento pela Arábia Saudita do direito de Israel existir faz parte do projeto ‘Acordo do Século’ contra o Irã e contra a 'Frente de Resistência'. Os encontros realizados entre o príncipe árabe e Israel a alto nível entram neste acordo", disse o analista.

Segundo Afghahi, o primeiro passo foi dado por Trump ao afirmar que os EUA vão transferir a embaixada norte-americana a Jerusalém. O segundo passo é o estabelecimento de laços entre a Arábia Saudita e Israel, já que os dois países tencionam juntar suas forças contra o Irã.

A Torre Azadi e bandeiras iranianas em Teerã - Sputnik Brasil
Guarda Revolucionária do Irã critica ataque israelense a palestinos e defende 'retaliação'
"Outra parte deste plano covarde é a criação de uma cidade industrial no deserto do Sinai, onde no futuro seria possível acomodar palestinos. E, por fim, está sendo estudada a possibilidade de criação de uma frente unida composta pelos EUA, Arábia Saudita e Israel, contra a 'Frente de Resistência'." 

Quando perguntado se os passos empreendidos pela Arábia Saudita receberão apoio internacional, para o especialista, a resposta é óbvia.

"Este projeto não tem apoio mundial."

Feed de notícias
0
Para participar da discussão
inicie sessão ou cadastre-se
loader
Bate-papos
Заголовок открываемого материала