Em entrevista à Sputnik Brasil, o economista e professor da Fundação Getúlio Vargas no Rio (FGV Rio) István Kasznar observa, porém, que esse desempenho da arrecadação nos três níveis (federal, estadual e municipal) não se deve à retomada da economia, ainda muito incipiente, segundo ele. Na visão do especialista, há uma série de fatores que podem justificar esse desempenho, entre eles a melhor fiscalização por parte da Receita Federal e a antecipação, em muitos casos, dos pagamentos de impostos e multas feitos por empresas e mesmo a antecipação do pagamento do Imposto de Renda da parte das pessoas físicas.
"Carga fiscal, em geral, corresponde ao valor total das arrecadações, das receitas em impostos, taxas, emolumentos, tarifas que o governo recolhe de produtos e serviços gerados em um ano. No ano passado, conforme dados do IBGE, a nossa carga fiscal foi de 35,6% do PIB, elevada, muito parecida com a da Alemanha que tem qualificação com entrega bens e serviços públicos para contribuintes e não contribuintes. No nosso caso, quando a gente pensa no Impostômetro, precisamos agir com cautela", afirma o professor.
Kasznar afirma que, embora a inflação tenha diminuído muito no Brasil, ela ainda é existente: no ano passado ela fechou entre 2% e 2,5% o que faz com que o valor nominalmente devido em impostos tenda a aumentar. Ele observa, contudo, que o Brasil vive um momento de esgarçamento político que se reflete na lenta retomada do crescimento da economia. A prisão do ex-presidente Lula mostra que o Brasil ingressa em uma nova era em que políticos e empresários são passíveis de punição. A consequência negativa desse novo clima faz com que as empresas adiem investimentos.
"Quando você tem a reforma da Previdência, que virou uma desistência, adiada para o outro governo, você deixa muito claro a sinalização que o déficit público está aí e vai cescer. Mesmo que se tente fazer rearranjos contábeis, obter créditos do BNDES, repasses da Petrobras para fechar as contas públicas, o tamanho do buraco é de R$ 130, R$ 140 bilhões. Isto é uma demonstração de que este governo é fraco. Isso vai pressionar a relação dívida interna pública com o PIB. A gente vai pular dos 78% que a gente tem hoje nessa relação para 81% daqui a um ano e meio, e isso é grave", diz Kasznar.
O professor da FGV Rio lembra que suas previsões, feitas no ano passado, de que o desemprego não diminuiria, se confirmam agora: em fevereiro a taxa voltou a subir e atingiu 12,6% da população, o equivalente a 13 milhões de pessoas sem emprego. Ele lembra que 54% das pessoas que buscam trabalho só encontram uma nova oportunidade após um ano. Oquadro é ainda mais grave, diz, quando se vê que a entrada de 2,8 milhões de jovens no mercado por ano, demanda que não é atendida.
"O verdadeiro desempego é muito maior, porque você tem o brasileiro mal empregado, subempregado. Essa gente no total não são 13 milhões, são 48,5 milhões. O Brasil está carente de um modelo macroeconômico que possa lhe dar uma rota para o crescimento e a empregabilidade. Estamos vendo os indicadores do PIB patinando. Estamos caranguejando na economia brasileira", finaliza Kasznar.
A letargia econômica é confirmada pelos números do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) relativos a fevereiro. O índice, espécie de antecipação do PIB que é divulgado pelo IBGE, aponta que o indicador cresceu apenas 0,09% em fevereiro. A indústria avançou 0,2%, o resultado mais fraco em dois anos; as vendas do comércio varejista recuaram 0,2% e o setor de serviços apresentou modesta alta de 0,1%.