Realizado pela brasileira Renée Nader Messora e o português João Salaviza, o longa acompanha o cotidiano da comunidade indígena Krahô, no estado de Tocantins.
O trabalho foi rodado ao longo de nove meses, "feito de forma muito próxima da comunidade, com a ideia de construir o olhar indígena que muito raramente nós vemos no imaginário brasileiro. As poucas vezes em que o indígena tem direito à representação da imagem sempre é de forma muito negativa ou muito infantilizada", conta à Sputnik João Salaviza (Palma de Ouro de melhor curta-metragem em 2009 por Arena). 3500 índios participaram da produção, atuando no idioma próprio.
Foi mais um gesto de protesto além do já propagandeado no tapete vermelho do festival, quando tanto equipe quanto atores compareceram vestindo preto e demandando pautas importantes como a demarcação de terras e o fim do "genocídio" indígena. A diretora justificou a ação como uma tentativa de chamar atenção para temas historicamente esquecidos em relação ao direito dos índios.
"A esquerda brasileira que acha que o indío não faz parte destes protestos, que não tem lugar de fala, de espaço. A gente escuta muitas vezes os movimentos sociais se pronunciando e eles raramente lembram do movimento indígena. Nesse momento de luta e reivindicação que vivemos, [é preciso lembrar que os indígenas] são os verdadeiros do Brasil", avalia Messora.
Salaviza vai além e lembra que, o processo de construção da identidade nacional passa pelo povo original desta terra.
"Os únicos habitantes do solo brasileiro que sempre foram os verdadeiros defensores da terra são os indígenas. São os habitantes originários, em teoria nós todos estamos em um território que não é nosso. Além disso, [os índios] são os únicos que não contaminaram, não destruíram a terra. Sem os índios, é muito claro que o espaço natural brasileiro vai acabar. Esse discurso de construção da identidade nacional deveria ouvi-los", avalia.