Em nota enviada à Sputnik Brasil, o Exército Brasileiro confirmou que os Estados Unidos ofereceram o material, mas que uma equipe brasileira vai aos EUA para verificar as condições dos materiais.
"A referida visita irá determinar se o Exército Brasileiro irá receber a doação total, parcial ou se não receberá nenhum material", escreveram.
Jornalista Roberto Lopes, especializado em assuntos bélicos e militares, comentou para à Sputnik Brasil a doação dos EUA.
"Nesse momento nós estamos recebendo os chamados excedentes, itens excedentes das Forças Armadas americanas que são adequados a nossa situação financeira nas Forças Armadas e que é uma situação de muita carência. Essa prática de recepção de material americano, ela é ditada pelas circunstâncias econômicas. O Exército Brasileiro não tem recursos para comprar um material que, na minha opinião, seria mais adequado ao invés dos veículos sobre esteiras, sobre lagartas, seria veículos sobre pneus. Mas nós não temos essa possibilidade financeira no momento", afirmou.
Apesar de que neste último caso o Brasil, se pretender ter as armas doadas pelos EUA, terá que pagar pelo custo de embarque e manuseio, algumas doações são completamente gratuitas. Assim foi no caso mais recente (em abril de 2018) de doação de 34 veículos tipo Posto de Comando M577A2. Estes veículos são derivados do M113, que é um transporte de soldados sobre esteiras, mas o M577 tem seu desenho alterado, tem o teto mais alto para poder servir como posto de comando.
"Nós recebemos 34 destes veículos, eles estavam muito pouco rodados, apesar de estarem desgastados pelo tempo que passaram armazenados ao ar livre no interior do estado da Califórnia", apontou.
A idade média dos equipamentos doados é de 30 anos, se trata da fabricação, mas o projeto deles é muito mais antigo.
"Essa dependência já existe. Eles não estão estabelecendo nada de novo, estão apenas cumprindo uma rotina que vem sendo desenvolvida há décadas de fornecer material ao que eles chamam de ‘nações amigas'. Os materiais que na verdade não representam nenhum tipo de tecnologia muito sofisticada", detalhou Roberto Lopes.
No que diz respeito a um hipotético conflito externo, surge a pergunta se estes equipamentos serão capazes de contribuir à eficácia do Exército Brasileiro. Comentando essa situação hipotética, o jornalista reiterou que o Brasil não tem na sua vizinhança nenhum país que seja capaz de o ameaçar.
"Esse, aliás é um fato que tem levado o Exército Brasileiro a adotar algumas posturas, por exemplo, como nós não temos nenhum país que nos ameace por fronteiras de terra, todos eles tem equipamentos muito piores, de muito menos qualidade, o Exército Brasileiro tem se dado ao luxo de não priorizar a aquisição de carros de combate", explicou.
Dado a ausência de ameaças externas, Roberto Lopes sublinhou que no futuro observável o país não terá chance de usar veículos dos EUA para se defender.
"A nossa prioridade agora é estabelecer Forças Armadas capazes de serem empenhadas em missões fora do Brasil, em missões ao serviço das tropas de imposição de paz das Nações Unidas. A nossa ênfase é ter tropas preparadas para servir às Nações Unidas e isso não é fácil", reiterou.
Quanto à falta de recursos financeiros que sofrem as Forças Armadas do Brasil, Roberto Lopes comentou que os militares superam essa falta por meio do ensino, educação e treinamento militares. Um exemplo, no caso da Força Aérea, usando muito os simuladores de voo. A Marinha faz um esforço enorme para desenvolver simuladores de tudo. O Exército tem o Centro de Instrução de Blindados, um dos melhores da América do Sul com muitos simuladores. Sem dinheiro, o que os militares brasileiros fazem é complementar a formação de seus militares com aulas, com tempo em simulador, explicou concluindo o jornalista.
O jornalista Pedro Paulo Rezende, especialista em assuntos militares, disse que os equipamentos oferecidos são antigos, mas podem ser úteis para o Brasil dependendo das condições que estejam encontrados.
"Não são materiais de ponta, o material que nós estamos recebendo tecnologicamente é da guerra do Vietnã, mas eles têm validade e funcionam", disse.
Rezende disse que esse tipo de prática é comum entre os dois países.
"Nosso exército já recebeu material desse tipo e para nós foi um grande avanço, nossa artilharia estava extremamente ultrapassada. Por meio do FMS (Foreign Military Sales), nós compramos equipamentos mais pesados, de maior alcance e transformamos esse material em um material quase novo", explicou.
A previsão, segundo o Exército Brasileiro, é de que esses materiais sejam avaliados já em junho deste ano.