A África poderia se converter no que era o gigante asiático até há pouco tempo: um lugar onde se produz qualquer coisa para todo o mundo, segundo afirmou Irene Yuan Sun em seu livro "A futura fábrica mundial". O processo já começou e tudo está se movimentando nesta direção, reforça essa ideia o analista político e colunista da Sputnik Dmitry Kosyrev.
Investimentos chineses na África
O Conselho Russo de Assuntos Internacionais indica que, desde 2009, a China tem sido o principal país sócio comercial da África. Assim, o intercâmbio comercial chegou a alcançar US$ 220 bilhões (R$ 821,6 bilhões) em 2014. Apesar de o índice ter diminuído para US$ 180 bilhões (R$ 672,5 bilhões), a China continua liderando as questões comerciais na África.
São valores substanciais em comparação com a Europa, onde os investimentos chineses corresponderam a US$ 35 bilhões (R$ 131 bilhões) em 2016. Deve-se destacar que, no caso da Europa, também houve um aumento significativo dos investimentos desde 2010, mas não foi tão volumoso quanto no continente africano.
Além disso, Pequim está liderando em questões de "ajuda" à África. Prevê-se que cerca de 240 mil especialistas africanos receberão formação nos próximos anos. Kosyrev relacionou esses dados do desenvolvimento do continente com a economia chinesa, o que acarretará na transferência de partes significativas de fábricas chinesas para o continente africano.
O que ganha China em curto prazo
O gigante asiático não faz investimentos que não sejam benéficos para si mesmo, por isso todos eles têm resultados tangíveis na África, segundo Kosyrev.
Todos esses bens foram destinados para o mercado africano, assim como para os mercados da China e de outros países. Além disso, Pequim está investindo intensamente na construção e desenvolvimento de infraestrutura, o que também é muito lucrativo, explicou o especialista.
Por que China não falhou onde outros falharam
O especialista revelou o que diferencia a China dos europeus, que tentaram fazer algo semelhante na África, mas fracassaram.
No caso dos europeus, a ganância e o desejo de mudar a mentalidade dos habitantes locais foram as causas de seu fracasso no continente colonizado, esclareceu.
"Os colonizadores tinham a ideologia de 'desenvolver os selvagens' ao nível de valores incomparáveis do Ocidente. […] As comunidades africanas não se tornaram ocidentais e não se desenvolveram como se esperava", acrescentou.
No entanto, a China não tenta mudar ninguém e se orienta pelo princípio de benefício mútuo. Até mesmo a mídia chinesa enfatiza o princípio de não se intrometer nos assuntos internos de outros países. Segundo o colunista, os chineses sabem o que fazer nesses países sem se importar com quem esteja no comando.
Como China poderia ganhar a liderança mundial através da África
"A China não ensina os outros a viver e trabalhar com qualquer governo. Corrupção? Os chineses sabem o que fazer nesses países. E é isso que acontece em todo o mundo", sublinhou Kosyrev.
"A fanática ideologia jihadista" no Oriente Médio assusta os mais pessimistas, que esperam a chegada de algo ainda pior da África.
"Extrema pobreza, pessoas enfurecidas e bem armadas, doenças terríveis: como é bom que tudo isso esteja isolado dentro das fronteiras do continente", ele citou os mencionados pessimistas.
É assim que as portas para a liderança mundial da China se abrem, considera o autor. Afinal, em vez desses horrores, "se a África fabrica muitos produtos sofisticados, forma engenheiros e técnicos, assim como médicos e cientistas, e tudo graças à China, quem terá a liderança moral e de qualquer outra índole no mundo de amanhã?", concluiu Dmitry Kosyrev ao analisar os verdadeiros objetivos da China no continente africano.